Sunday 24 July 2011

Proposta de reflexão (27 de Junho 2011)

Proposta de Reflexão sobre o Ludus Interface
As sombras chinesas e o modo como estas interpolam em si a Realidade com a ficção

Nesta reflexão quer-se indagar sobre as sombras chinesas e no seu próprio modo criativo de exposição. Visto que, nos oferece uma realidade ficcionada em confronto dinâmico com a realidade (real)
Por que razão conceptualizamos a projecção das sombras chinesas como uma realidade ficcionada?
As sombras chinesas permitem-nos um confronto entre o real e a ficção,  porque ao observar a sombra conseguimos consciencializar que nela existe uma representação do real, ou seja, uma ficção visual. A realidade e a ficção são duas expressões artísticas, porém também existencialistas. Todos nós temos a perfeita noção de que estas dimensões fazem parte do nosso intrínseco ser e que a sua expressão caracteriza o nosso devir neste mundo. Contudo, o que nos interessa aqui é reflectir sobre a conceptualização destes dois conceitos no projecto Ludus Interface. 
Nesta performance as sombras chinesas são essenciais para o seu próprio devir, no sentido em que marcam a existência de duas dimensões em si existentes.
Como podemos, portanto, reflectir na conceptualização destas duas dimensões no Ludus Interface? Penso que a resposta a esta problemática insere-se já em dois pólos trabalhados e desenvolvidos na própria performance. Se reflectirmos que na acção dos músicos e no seu trabalho de composição musical encontramos o pólo racionalista e na acção da artista plástica deparamo-nos com uma expressão do pólo sensitivo, o que nos leva a poder iniciar a nossa indagação sobre a dimensão do real e a dimensão da ficção como envolvidas nos dois pólos que referenciamos atrás. É no mundo da razão e das sensações (categorias estas que nos caracterizam como seres humanos) que surge a realidade e a própria ficção. O Ludus Interface leva-nos a mergulhar nesta metáfora conceptual com a nossa existência, que de forma criativa e num modo que tece uma meditação nos seus espectadores envolve um confronto harmónico entre estas duas dimensões (realidade e realidade ficcionada) que em alguns momentos da performance se confundem, estimulando neles, por isso um apelo à sua razão e também às suas emoções.
Indagar na realidade e na ficção da projecção das sombras (chinesas), leva-nos a pensar analiticamente na Alegoria da Caverna de Platão. Como sabemos esta alegoria platónica refere em si um conjunto de homens que vivem numa caverna isolados e aprisionados, que tomam como real na sua visão apenas a própria sombra de si mesmos e dos objectos que os rodeiam. Ou seja, a sua realidade é ficcionada, contudo eles não são conscientes de tal facto.

Porém, um dia um dos indivíduos consegue libertar-se e começa a procurar novos horizontes e consegue sair da caverna. Ao sair depara-se com uma luz imensa e com uma realidade totalmente diferente da escuridão da caverna. O indivíduo quase se cega com tal iluminação tão intensa e sente em si um imenso percepcionado no desconhecido que se lhe apresenta como novo, mas que sempre esteve lá. Sentido-se como um homem novo decide voltar à caverna para descrever este novo mundo que presenciou e como é de esperar os outros não o compreenderam e pensaram que ele falava de uma pura ficção, porque para eles a realidade encontrava-se na caverna e nas sombras dessa. No final, o indivíduo acaba por ficar na caverna sabendo de uma nova realidade existente que o preenchera e o preencherá para o resto da sua vida, mesmo ficando na escuridão com os outros, ele em si possui uma iluminação, uma consciência que lhe oferece uma experiência de vida mais complexa. E porquê mais complexa? Porque é consciente das duas dimensões existenciais, das suas diferenças e divergências e de como a ficção e a realidade podem existir como uma categoria do real na vida humana.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Esta alegoria é importante na conceptualização do projecto Ludus Interface, porque nos permite compreender a essência da percepção das duas realidades que estamos a abordar e também a justificação de introduzirmos o conceito de realidade ficcionada e não apenas ficção. As sombras chinesas oferecem-nos mais do que uma ficção, o espectador nas suas projecções compreende a existência de uma realidade ficcionada. Sabendo que se depara com uma projecção dos músicos e não com os músicos, percebe que a ficção dessa nutre também uma realidade existente, os músicos estão lá, porém não estão presentes de modo directo no seu campo visual, mas estão presentes de modo directo no seu campo auditivo. Estimulando-os, assim, a compreender a expressão da artista plástica, que por vezes parece ser ela também uma projecção, contudo não o é. Presencia-se, assim, um abraço entre as duas dimensões, uma ligação complexa entre dois universos que se preenchem num único Universo repleto de simbólicas artísticas que se interligam às significações existenciais.
Para terminar a reflexão penso que é necessário referir que Ludus Interface possui em si um jogo de ligações complexas entre os artistas e os seus modos de expressão, que nutrem em si uma dinâmica criativa que faz compreender a realidade e a realidade ficcionada sempre presente no mundo das Artes.
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. PLATÃO, A República (Livro VII), 10ª Edição, ed. Fundação Calouste Gulbenkian, pp.315-360

Relatório nº2 (21 de Junho 2011)


  Ludus Interface

Resumo
Neste relatório é primordial reflectir no projecto Ludus Interface contextualizando o seu envolvimento no mundo contemporâneo da composição musical, da pintura, da performance, e também na sua conceptualização filosófica presente como estética na criação artística que constitui. 
Abstract
In this report it’s primordial to reflect in Ludus Interface project contextualizing it’s involvement in the contemporary world of musical composition, painting, performance and also in it’s phiolosophical conceptualizacion present as aesthetics in the artistic creation that is.

Para compreendermos o projecto Ludus Interface é importante perceber a sua contextualização pós-modernista. O mundo pós-moderno trouxe consigo transformações que marcaram profundamente todas as áreas criativas humanas. Como sabemos esta Era leva-nos a entender um princípio máximo de complexidade e de radicalidade que está em relação intrínseca com a existência do ser humano e do Universo que o rodeia. Relembra-se, portanto, descobertas significativas como a Relatividade de Einstein, a Incerteza de Heisenberg, ou o Efeito Borboleta da Ciência do Caos que dialecticamente contrapuseram as doutrinas clássicas do mundo pluridisciplinar do Conhecimento Humano, como o da física, da arte ou até mesmo da filosofia.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Surge assim um processo de transformação imenso nas diversas ramificações do Saber que proporcionam uma mutabilidade incrível na própria criação humana e na sua conceptualização, devendo-se ao facto de existir uma profunda relação entre estas novas descobertas e o novo modo de vida paradigmático da existência humana. «Transformação é, em suma, o principal fenómeno de constituição dos novos sentidos desse mundo.»<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]-->
É nestes novos sentidos que a nossa reflexão quer incidir, visto que é neles que se traduz a nova conceptualização do mundo artístico e das outras áreas do saber que o envolvem. Porque se formos indagar nesta questão do mundo pós-moderno sabemos que nele criou-se uma ligação fundamental entre a criação artística e a criação tecnológica, esta última que se caracteriza como impulsionadora dos novos fenómenos que decorrem nas investigações contemporâneas. Podemos dar o exemplo do projecto “9 Evenings” que surgiu nos anos sessenta e foi considerado como um dos grandes projectos que tomou por objectivo maior o desenvolvimento da criação artística com auxilio da tecnologia. «9 Evenings was the first large-scale collaboration between artists and engineers and scientists. The two groups worked together for 10 months to develop technical equipment and systems that were used as an integral part for artists performances. »<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]-->
A expressão artística ganha, então, um poder imenso que permitiu empenhar em si uma hipersensibilidade, que afecta agora totalmente os públicos de uma maneira intensa e de forma sensorial, para além da cognitiva e racional. Esta hipersensibilidade nutre em si esses novos sentidos que envolvem uma nova conceptualização na criação artística e na sua estética. E é neles e nela que queremos pensar filosoficamente para levar o leitor à compreensão do Projecto Ludus Interface.
Este projecto envolve em si a doutrina da Arte Conceptual, ou seja existe em si uma «tendência artística que se inspira en el arte conceptual de la década de 1960, si bien concede mayor importancia al impulso narrativo.»<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->  A sua narrativa consiste num envolvimento em simultâneo de vários artistas que abraçam em si várias disciplinas artísticas, como a música (Jazz), a pintura e a performance. Libertando entre si uma energia totalmente pós-moderna caracterizada pela complexidade, pelo acaso, pela improvisação, pelo tempo real, pela imaginação, pelo paradoxo, pela narrativa, pelo acto artístico, pela criatividade, pelo novo paradigma, pela decisão humana e pelo mundo tecnológico. E é esta rede de conceitos que torna o projecto rico na sua conceptualização e na sua procura de sentido.
O Ludus Interface leva os artistas a mergulharem numa expressão artística que contrapõe em si o convencional. E que por consequente, origina uma possibilidade ou até podemos considerar uma tarefa de interpretação hermenêutica por parte dos próprios artistas e também dos diversos públicos aos quais o projecto se apresentará.
«A Hermenêutica não tem como objectivo a posse de conhecimentos e coisas, mas pretende simplesmente trazer à consideração dos filósofos algo que foi esquecido: a necessidade de pensar a forma de mediação que efectuam os ideários comuns transmitidos pela tradição histórica e literária. Segundo Gadamer, uma tal mediação, porque faz pensar e transmite práticas de relacionamento e de comunicação, exige execução criativa e pode ajudar a ultrapassar a redução do homem ao agir mecânico dos dias de hoje.»<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]-->
Este excerto foi escolhido com o intuito de explicar ao leitor a importância da compreensão de existir uma relação de interpretação no acto artístico deste projecto e que esse ocorre em ambas as partes, ou seja, nos intérpretes e nos interpretantes. E que na “leitura” da simbólica existirá de forma paralela uma narrativa conceptual e um contexto histórico que formata e desformata o próprio projecto. A hermenêutica pode fundamentar a construção de sentido e do hipersentido que o Ludus Interface cria e recria em si mesmo, sendo um projecto totalmente aberto em si e para si, ou seja não cria uma clausura de sentido. E este fenómeno demonstra a sua complexidade pós-moderna, porque podemos reflectir na sua aproximação ao mundo que nos rodeia cheio de significações e sentidos que predominam hoje numa fórmula holística e que essa se aproxima do conceito Universal que os filósofos desde sempre estudaram.
E o porquê de falarmos deste conceito abstracto que é o Universal? Como em todas as áreas do saber a própria arte tem de inserir em si a complexidade de ser humano e por isso introduzir o paradoxo da sua existência envolvida num todo que envolve em si diversas partes em relação proporcional e desproporcional continua. Porque «La desproporción entre el principio del placer y el principio de la felicidade es la que descubre el significado propriamente humano del conflicto.»<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> Sendo cada vez mais necessário envolvermo-nos numa criação que se aproxime ao que somos e a narrativa artística tem todos os meios neste momento que a possa traduzir de forma sensorial e cognitiva. E o hipertexto permite esta liberdade para a criação de espaços e técnicas que nos envolvem numa representação do conhecimento totalmente actualizada. «O conceito de hipertexto, por sua vez, é espantosamente simples: trata-se de um texto que pode ser percorrido de diversas formas, não contendo a priori princípio ou fim.» Ou seja, mantém em si uma abertura complexa ao seu devir e continuidade existencial.
E este projecto envolve em si, sem dúvida alguma, um esforço de trabalhar esta conceptualização na sua narrativa, visto que mesmo sendo auxiliado de meios tecnológicos como a programação que irá permitir uma transformação nas partituras e na sua composição musical gráfica, levando-nos também a compreender a necessidade e o esforço da criatividade humana, que eventualmente se elevará autonomamente perante a própria tecnologia. Esta é um meio e a criação do fim deste é estabelecida pela incompreensão da complexidade do acto artístico da própria máquina, onde surgirá o acto de criação e criativo humano para que o projecto fique em aberto.
«Especialmente numa época quando o uso do poder e da tecnologia mantêm-se focados na concentração de riqueza, belicosidade e dominação da natureza (…) é necessário que uma das principais funções da arte seja a de expressar ideias e sentimentos fundamentais para o ser humano (…). Num contexto como esse, a exigência sobre a criatividade do artista é altíssima já que não basta inovar no que é dito mas, complementarmente, na forma de estruturar o discurso»<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->
Para terminar, queremos que o leitor entenda aqui o conceito de discurso como a narrativa que está envolvida no próprio projecto e no seu acto artístico. Porque mesmo não sendo essa comunicada em palavras comuns, nutre em si uma comunicação de conceitos importantes para a compreensão da nossa existência. A linguagem artística do Ludus Interface leva-nos a viajar pelo tempo-real do paradoxo e pela improvisação no acaso que se assemelha totalmente à da nossa própria existência que na sua circusntancialidade enigmática nos caracteriza humanamente.


Bibliografia

GROSENICK, Uta, ART NOW vol.2 “La Nueva Guía con 136 Artistas Contemporaneous Internacionales., ed. Taschen;

PORTOCARRERO-SILVA, Maria Luísa, Os Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica, Coimbra, 2010;

PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999;

RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D);

http://www.9evenings.org/; 17 de Junho de 2011 (11h.45m)
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999, pag.1
<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->  GROSENICK, Uta, ART NOW vol.2 “La Nueva Guía con 136 Artistas Contemporaneous Internacionales., ed. Taschen,pag.556

<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> PORTOCARRERO-SILVA, Maria Luísa, Os Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica, Coimbra, 2010, pp.2-3
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D), pag. 123

[7] PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999, pag.3



Relatório nº1 (6 de Junho 2011)

Neste relatório é primordial reflectir na transformação artística e política da imagem. Sendo necessário pensar esta problemática com a contextualização da passagem do mundo moderno para o mundo pós-moderno e no nascimento de um novo paradigma

In this report it’s essential to reflect upon the artistic and political transformation of image, being required to think in this problematic according to the context of transaction from the modern world to the post modern world, as in the birth of a new paradigm.

Como se sabe a objectivação e a racionalidade caracterizava a criação e a estética no modernismo e por consequente a subjectivação tornou-se a máxima idiossincrasia no pós-modernismo. A superação do modernismo deu-se pelo esgotamento da criação artística no seu sentido de outrora e pelo início da reprodução técnica no mundo artístico. Estes dois fenómenos criaram um impacto complexo no mundo das artes e relaciona-se totalmente com as transformações sociais, económicas e políticas no início do século XX que levaram a uma intensiva mudança no mundo ocidental, o que possibilitou o nascimento de um novo paradigma no meio artístico e não só. Este novo paradigma é o objecto de estudo desta reflexão, porque nos permite pensar como inicialmente as suas consequências foram negativas, visto que permitiu mudanças estrondosas no mundo da arte como por exemplo a troca do seu valor de culto, pelo valor de exposição. Porém, após alguns anos e decádas os artistas transformam essas mudanças e fazem surgir nas suas criações um poder de crítica e de criatividade imenso e complexo, que leva o antigo valor de uma contemplação do belo e do feio, a uma contemplação crítica das nossas sociedades complexas e desenvolvidas.
Segundo Walter Benjamin foi a reprodução técnica da imagem artística que fez surgir um dominio superficial da obra de arte, que trouxe ao mundo das artes mudanças significativas inclusive a perda da Aura Artística. Para ele esta Aura concentrava em si toda a espiritualidade e magia que a originalidade derivada da criação artística possuia, sendo esta a especificidade da sua existência, ou seja, o seu aqui e agora<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->. Para Benjamin, uma obra autêtica está justificada no seu fazer manual e na sua continuidade substancial que se traduz na sua autoridade. Acreditando, que a própria reprodução técnica iria  fazer esta autoridade cair na própria decadência visual das artes, pelo facto de essa ser mais autónoma e independente da criação humana. É importante, compreender que a obra autêntica concentra em si uma transmissão ao espectadr individual da sua duração material, e portanto do seu testemundo histórico, de uma época, de um contexto social ou de um movimento especifico, que intitula em si uma representação única de um momento particular, escolhido pelo autor dum imenso por si percepcionado. Envolvendo um ritual, que permite a obra de arte ganhar em si um valor de culto (que era próprio da natureza primária da representação artística), enquanto a obra produzidada tecnicamente passa a ter um valor imenso no formato de exposição. O que leva a perda da aura, segundo Benjamin, visto que a autoridade da obra de arte se perdera na exposição repetida. Esta conceptualização da repetição<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> é muito interessante, porque permite reflectir no modo como essa é direccionada à cultura de massas.
Considera-se necessário reflectir aqui neste pensamento, porque Benjamin introduz uma crítica a cultura de massas e ao seu espaço comum de reunião acrítica. Para o pensador o facto do espectador se envolver colectivamente num público faz com que se perca a essência da experiência estética, no sentido em que essa deve ser pessoal e envolver em cada individuo uma reflexão individual e sensorial. Surge assim no seu ponto de vista uma indústria artística que precisa de públicos que não compreendam o valor de culto da arte, mas sim que sintam e reflictam apenas o valor expositivo da produção e reprodução artística. Nascendo uma nova prespectiva analítica da arte, pobre na sua introspecção. “ O convencional é apreciado acriticamente e o que é verdadeiramente novo é críticado com aversão.”<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> Percebe-se, assim, que a criação de públicos leva a uma observação simultânea de vários indivíduos das obras de arte, o que por consequência ele acreditava que levaria o indivíduo a controlar as suas próprias reacções, perante o que observa. Para o autor a constituição de públicos e de massas proletarizadas são provenientes de uma pressão política, dando o exemplo de que « o fascismo vê a sua salvação no facto de permitir às massas que se exprimam mas, de modo nenhum, que exerçam os seus direitos (...) o fascismo acaba por introduzir uma estetização da vida política.(...) O comunismo responde-lhe com a politização da arte.»<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]--> Com a reprodutibilidade técnica passa a haver um reforço na manipulação de informação com o intuito de criar a ilusão de que tudo se mantém e nada se alterou totalmente. Portanto consegue-se equilibrar sentimentos no indivíduo, elevando a sua natureza social, à estrutura colectiva da sociedade, ou seja, da cultura de massas. Emerge-se, assim, um novo paradigma que implica em si a democratização da arte.
Esta prespectiva de Walter Benjamin é importante para compreender-se o impacto deste novo paradigma no mundo artístico e como a política se relaciona inteiramente com ele, porque presenciamos o fenómeno da reconfiguração simbólica e de signos com o intuito de persuadir uma experiência no público. «Cuando las práticas y las formas de visibilidade del arte intervienen en la division de lo sensible y en su reconfiguración, entonces nos situamos en medio de la relacion entre estética y politica.»<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> A relação entre arte e política marca profundamente o início do século XX e o modo como essa influenciou a nossa cultura até aos dias de hoje. E como esta relação caracteriza a nossa actualidade quotidiana é extremamente importante reflectir nela e nas problemáticas que envolveu e envolve em si. Não falaremos de movimentos especifícos, mas sim na importância conceptual e simbólica de novos conceitos artísticos que surgem com este paradigma.
 O ser humano, como se sabe, possui uma capacidade imensa de adaptação ao real objectivado, porém também possui a capacidade de transformação, no sentido em que é crítico, criativo e que a dinâmica do seu pensamento traduz em si uma subjectividade imensa. Esta subjectividade traduz-se como a idiossincrasia máxima da transformação que se assiste no novo paradigma. Transformação no sentido, em que este novo sistema artístico poderia ter limitado os próprios horizontes artísticos, devido aos novos valores introduzidos que Benjamin reflecte criticamente. Contudo, não foi isso que aconteceu! Apesar de se ter criado uma cultura de massas mais quantitativa do que qualitativa, existe qualidade artística que pronuncia em si um discurso simbólico muito rico e com um poder estético de reflexão imensa.
A arte sempre manteve em si simbólicas da vida e que se traduziram ao longo dos tempos como testemunhos de excelência. Interpretações significativas que predominam na identidade da humanidade e na especificidade temporal e espacial de cada época. E tal fenómeno continua no nosso quotiadiano pós-moderno. Actualmente, o valor de exposição caracteriza-se simbioticamente com o valor de culto artístico. Assistimos hoje, por isso, na criação artística além do valor estético também a presença do valor ético. Tal circunstância deve-se ao facto da relação da arte com a política e como essa caracteriza totalmente o devir existencial do ser humano. A criação artística envolve em si um universo subjectivo e existencial do seu autor, um culto à vida que agora se substancializa no valor expositivo da sua obra. «As intervenções artísticas que afirmam a força política que lhes é inerente seriam aquelas que fazem a partir do modo como as forças do presente afectam o corpo do artista.»<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]-->  A subjectividade supera a objectividade de outrora, no sentido em que no mundo real já não é possível sustentar o mundo rigoroso e racionalista da objectividade. E o artista demonstra-o. O sistema é superado, porque no próprio século XX assiste-se a mudanças drásticas e a factos históricos que não poderão cair no esquecimento da humanidade. Participarão sempre na sua identidade e demonstram o paradoxo existencial entre a proporção e a desproporção do ser humano.
Esta análise é uma possibilidade para compreender, também, o peso significativo de conceptualidade que muitas expressões artisticas possuem hoje na sua contemporaneidade e que esse pode ser indagado como algo positivo no mundo das artes. Visto que, não contribui para o acriticismo dos diversos públicos existentes, ou seja, da própria cultura de massas, o que é importante como objecto de estudo, porque o fenómeno desta cultura é próprio do paradigma pós-moderno. Podemos dar aqui, o exemplo das instalações de Nam June Paik que nos traduzem um mundo onde a contemplação visual é brutalmente imposta no nosso campo de visão, ou como essa contemplação tem sofrido imensas distorções  perante o campo do real e o campo da ficção, levando à própria confusão de conceitos. Outro exemplo do peso significativo da conceptualidade na expressão artística contemporânea é a instalação de Doug Atitken em suporte video “Migration - Installation View<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->”. Aqui o artista expõe segmentos de imagens repetidas e continuadas que nos traduzem uma imensa crítica às nossas socidades, levando o espectador a meditar em problemáticas do nosso quotidiano como por exemplo especifismo. Estes exemplos demonstram-nos a capacidade da arte e da própria indústria artística possibilitarem-nos entender como é que os novos meios tecnológicos podem suportar em si uma substancialização da arte e não só a decadência visual como conhecemos no seu uso banal, comercial e quantitativo (exemplo do quotidiano, a própria publicidade). A reprodução técnica permitiu o alcance dos suportes tecnológicos visuais e é necessário compreender que estes irão manter na Imagem sempre uma dictomia entre o qualitativo e o quantitativo mundo simbólico que esta transportará em si para o exterior. É importante meditar, portanto, nesta possibilidade de representar artísticamente uma crítica conceptual que traduzirá na experiência estética, mas agora também ética do espectador numa viagem que transportará em si signos e simbolos que envolvem o mundo quotidiano, mas também porque demonstra uma dinâmica incrível de criação e uma criatividade única e potencializada. «Ativam-se (assim) outros modos de relação com as imagens, outras formas de percepção e recepção, mas também e sobretudo, de invenção e expressão. Elas podem implicar novas políticas da subjectividade e sua relação com o mundo, ou seja, novas configurações do inconsciente no campo social, as quais redesenham a sua cartografia.»<!--[if !supportFootnotes]-->[8]<!--[endif]-->
Para terminar este pequeno relatório sobre a Imagem artística e as suas transformações, considera-se necessário afirmar que o discurso conceptual e simbólico presente nas novas expressões artísticas podem traduzir-se como um compreensão da subjectividade que envolve a existência humana. Sendo esta a grande idiossincrasia que caracteriza a humanidade e possibilita no novo paradigma, um novo início para o agir e o pensar humano. Estamos num novo século, num novo milénio e é necessário contribuir com uma nova história para a identidade da própria humanidade. O conhecimento de nós próprios como espécie é preciso e é um processo complexo de aprendizagem. Novos desafios surgem todos os dias, que devêm do novo paradigma, que atenção, não afecta só o mundo das artes, mas também a organização social, política e económica do mundo. E a conclusão a que se pode chegar é que muitos artistas, intelectuais, críticos e pessoas já estão conscientes e preparados, contudo falta democratizar totalmente à nivel qualitativo este novo paradigma e suas implicações. «En esta sociedade donde tenemos que repensar la dialéctica atención/distracción para ser poco conscientes de quienes somos, cuáles son nuestras capacidades para ver, para compreender más tarde, cuales nuestros traumas, nuestras incapacidades.»<!--[if !supportFootnotes]-->[9]<!--[endif]-->

BIBLIOGRAFIA
BENJAMIN, Walter, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, ed. Relógio d’ Água, Lisboa, 1992
FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Resonancias. Arte y vida. Una lectura de Jacques Rancière, pp. 47-56
FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Outro mundo es posible? Qué puede el arte?, pp.126-143
ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pp.97-105


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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. A utilização destes dois conceitos é significativa, no sentido em que se está a estabelecer o valor da criação artística e do trabalho em si do criador. A expressão espacial (aqui) e temporal (agora) é sempre necessária na compreensão do todo que envolve a obra em si. Porque são estes dois conceitos que emergem em si a autenticidade da obra de arte.
<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> Cf. Sendo este fenómeno da repetição da imagem e da influência dessa na cultura de massas, que levará também à transformação da emoção e da sensação na experiência emotivo – estética.
<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> BENJAMIN, Walter, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, ed. Relógio d’ Água, Lisboa, 1992, pp.108 e 109;
<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Resonancias. Arte y vida. Una lectura de Jacques Rancière, pag.52
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pag.100
<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->  É possível visualizar um vídeo desta instalação pelo seguinte link: http://youtu.be/JZ6cJaGm79E
<!--[if !supportFootnotes]-->[8]<!--[endif]--> ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pag.100

<!--[if !supportFootnotes]-->[9]<!--[endif]--> FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Outro mundo es posible? Qué puede el arte?, pag.140