Sunday 24 July 2011

Relatório nº1 (6 de Junho 2011)

Neste relatório é primordial reflectir na transformação artística e política da imagem. Sendo necessário pensar esta problemática com a contextualização da passagem do mundo moderno para o mundo pós-moderno e no nascimento de um novo paradigma

In this report it’s essential to reflect upon the artistic and political transformation of image, being required to think in this problematic according to the context of transaction from the modern world to the post modern world, as in the birth of a new paradigm.

Como se sabe a objectivação e a racionalidade caracterizava a criação e a estética no modernismo e por consequente a subjectivação tornou-se a máxima idiossincrasia no pós-modernismo. A superação do modernismo deu-se pelo esgotamento da criação artística no seu sentido de outrora e pelo início da reprodução técnica no mundo artístico. Estes dois fenómenos criaram um impacto complexo no mundo das artes e relaciona-se totalmente com as transformações sociais, económicas e políticas no início do século XX que levaram a uma intensiva mudança no mundo ocidental, o que possibilitou o nascimento de um novo paradigma no meio artístico e não só. Este novo paradigma é o objecto de estudo desta reflexão, porque nos permite pensar como inicialmente as suas consequências foram negativas, visto que permitiu mudanças estrondosas no mundo da arte como por exemplo a troca do seu valor de culto, pelo valor de exposição. Porém, após alguns anos e decádas os artistas transformam essas mudanças e fazem surgir nas suas criações um poder de crítica e de criatividade imenso e complexo, que leva o antigo valor de uma contemplação do belo e do feio, a uma contemplação crítica das nossas sociedades complexas e desenvolvidas.
Segundo Walter Benjamin foi a reprodução técnica da imagem artística que fez surgir um dominio superficial da obra de arte, que trouxe ao mundo das artes mudanças significativas inclusive a perda da Aura Artística. Para ele esta Aura concentrava em si toda a espiritualidade e magia que a originalidade derivada da criação artística possuia, sendo esta a especificidade da sua existência, ou seja, o seu aqui e agora<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->. Para Benjamin, uma obra autêtica está justificada no seu fazer manual e na sua continuidade substancial que se traduz na sua autoridade. Acreditando, que a própria reprodução técnica iria  fazer esta autoridade cair na própria decadência visual das artes, pelo facto de essa ser mais autónoma e independente da criação humana. É importante, compreender que a obra autêntica concentra em si uma transmissão ao espectadr individual da sua duração material, e portanto do seu testemundo histórico, de uma época, de um contexto social ou de um movimento especifico, que intitula em si uma representação única de um momento particular, escolhido pelo autor dum imenso por si percepcionado. Envolvendo um ritual, que permite a obra de arte ganhar em si um valor de culto (que era próprio da natureza primária da representação artística), enquanto a obra produzidada tecnicamente passa a ter um valor imenso no formato de exposição. O que leva a perda da aura, segundo Benjamin, visto que a autoridade da obra de arte se perdera na exposição repetida. Esta conceptualização da repetição<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> é muito interessante, porque permite reflectir no modo como essa é direccionada à cultura de massas.
Considera-se necessário reflectir aqui neste pensamento, porque Benjamin introduz uma crítica a cultura de massas e ao seu espaço comum de reunião acrítica. Para o pensador o facto do espectador se envolver colectivamente num público faz com que se perca a essência da experiência estética, no sentido em que essa deve ser pessoal e envolver em cada individuo uma reflexão individual e sensorial. Surge assim no seu ponto de vista uma indústria artística que precisa de públicos que não compreendam o valor de culto da arte, mas sim que sintam e reflictam apenas o valor expositivo da produção e reprodução artística. Nascendo uma nova prespectiva analítica da arte, pobre na sua introspecção. “ O convencional é apreciado acriticamente e o que é verdadeiramente novo é críticado com aversão.”<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> Percebe-se, assim, que a criação de públicos leva a uma observação simultânea de vários indivíduos das obras de arte, o que por consequência ele acreditava que levaria o indivíduo a controlar as suas próprias reacções, perante o que observa. Para o autor a constituição de públicos e de massas proletarizadas são provenientes de uma pressão política, dando o exemplo de que « o fascismo vê a sua salvação no facto de permitir às massas que se exprimam mas, de modo nenhum, que exerçam os seus direitos (...) o fascismo acaba por introduzir uma estetização da vida política.(...) O comunismo responde-lhe com a politização da arte.»<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]--> Com a reprodutibilidade técnica passa a haver um reforço na manipulação de informação com o intuito de criar a ilusão de que tudo se mantém e nada se alterou totalmente. Portanto consegue-se equilibrar sentimentos no indivíduo, elevando a sua natureza social, à estrutura colectiva da sociedade, ou seja, da cultura de massas. Emerge-se, assim, um novo paradigma que implica em si a democratização da arte.
Esta prespectiva de Walter Benjamin é importante para compreender-se o impacto deste novo paradigma no mundo artístico e como a política se relaciona inteiramente com ele, porque presenciamos o fenómeno da reconfiguração simbólica e de signos com o intuito de persuadir uma experiência no público. «Cuando las práticas y las formas de visibilidade del arte intervienen en la division de lo sensible y en su reconfiguración, entonces nos situamos en medio de la relacion entre estética y politica.»<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> A relação entre arte e política marca profundamente o início do século XX e o modo como essa influenciou a nossa cultura até aos dias de hoje. E como esta relação caracteriza a nossa actualidade quotidiana é extremamente importante reflectir nela e nas problemáticas que envolveu e envolve em si. Não falaremos de movimentos especifícos, mas sim na importância conceptual e simbólica de novos conceitos artísticos que surgem com este paradigma.
 O ser humano, como se sabe, possui uma capacidade imensa de adaptação ao real objectivado, porém também possui a capacidade de transformação, no sentido em que é crítico, criativo e que a dinâmica do seu pensamento traduz em si uma subjectividade imensa. Esta subjectividade traduz-se como a idiossincrasia máxima da transformação que se assiste no novo paradigma. Transformação no sentido, em que este novo sistema artístico poderia ter limitado os próprios horizontes artísticos, devido aos novos valores introduzidos que Benjamin reflecte criticamente. Contudo, não foi isso que aconteceu! Apesar de se ter criado uma cultura de massas mais quantitativa do que qualitativa, existe qualidade artística que pronuncia em si um discurso simbólico muito rico e com um poder estético de reflexão imensa.
A arte sempre manteve em si simbólicas da vida e que se traduziram ao longo dos tempos como testemunhos de excelência. Interpretações significativas que predominam na identidade da humanidade e na especificidade temporal e espacial de cada época. E tal fenómeno continua no nosso quotiadiano pós-moderno. Actualmente, o valor de exposição caracteriza-se simbioticamente com o valor de culto artístico. Assistimos hoje, por isso, na criação artística além do valor estético também a presença do valor ético. Tal circunstância deve-se ao facto da relação da arte com a política e como essa caracteriza totalmente o devir existencial do ser humano. A criação artística envolve em si um universo subjectivo e existencial do seu autor, um culto à vida que agora se substancializa no valor expositivo da sua obra. «As intervenções artísticas que afirmam a força política que lhes é inerente seriam aquelas que fazem a partir do modo como as forças do presente afectam o corpo do artista.»<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]-->  A subjectividade supera a objectividade de outrora, no sentido em que no mundo real já não é possível sustentar o mundo rigoroso e racionalista da objectividade. E o artista demonstra-o. O sistema é superado, porque no próprio século XX assiste-se a mudanças drásticas e a factos históricos que não poderão cair no esquecimento da humanidade. Participarão sempre na sua identidade e demonstram o paradoxo existencial entre a proporção e a desproporção do ser humano.
Esta análise é uma possibilidade para compreender, também, o peso significativo de conceptualidade que muitas expressões artisticas possuem hoje na sua contemporaneidade e que esse pode ser indagado como algo positivo no mundo das artes. Visto que, não contribui para o acriticismo dos diversos públicos existentes, ou seja, da própria cultura de massas, o que é importante como objecto de estudo, porque o fenómeno desta cultura é próprio do paradigma pós-moderno. Podemos dar aqui, o exemplo das instalações de Nam June Paik que nos traduzem um mundo onde a contemplação visual é brutalmente imposta no nosso campo de visão, ou como essa contemplação tem sofrido imensas distorções  perante o campo do real e o campo da ficção, levando à própria confusão de conceitos. Outro exemplo do peso significativo da conceptualidade na expressão artística contemporânea é a instalação de Doug Atitken em suporte video “Migration - Installation View<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->”. Aqui o artista expõe segmentos de imagens repetidas e continuadas que nos traduzem uma imensa crítica às nossas socidades, levando o espectador a meditar em problemáticas do nosso quotidiano como por exemplo especifismo. Estes exemplos demonstram-nos a capacidade da arte e da própria indústria artística possibilitarem-nos entender como é que os novos meios tecnológicos podem suportar em si uma substancialização da arte e não só a decadência visual como conhecemos no seu uso banal, comercial e quantitativo (exemplo do quotidiano, a própria publicidade). A reprodução técnica permitiu o alcance dos suportes tecnológicos visuais e é necessário compreender que estes irão manter na Imagem sempre uma dictomia entre o qualitativo e o quantitativo mundo simbólico que esta transportará em si para o exterior. É importante meditar, portanto, nesta possibilidade de representar artísticamente uma crítica conceptual que traduzirá na experiência estética, mas agora também ética do espectador numa viagem que transportará em si signos e simbolos que envolvem o mundo quotidiano, mas também porque demonstra uma dinâmica incrível de criação e uma criatividade única e potencializada. «Ativam-se (assim) outros modos de relação com as imagens, outras formas de percepção e recepção, mas também e sobretudo, de invenção e expressão. Elas podem implicar novas políticas da subjectividade e sua relação com o mundo, ou seja, novas configurações do inconsciente no campo social, as quais redesenham a sua cartografia.»<!--[if !supportFootnotes]-->[8]<!--[endif]-->
Para terminar este pequeno relatório sobre a Imagem artística e as suas transformações, considera-se necessário afirmar que o discurso conceptual e simbólico presente nas novas expressões artísticas podem traduzir-se como um compreensão da subjectividade que envolve a existência humana. Sendo esta a grande idiossincrasia que caracteriza a humanidade e possibilita no novo paradigma, um novo início para o agir e o pensar humano. Estamos num novo século, num novo milénio e é necessário contribuir com uma nova história para a identidade da própria humanidade. O conhecimento de nós próprios como espécie é preciso e é um processo complexo de aprendizagem. Novos desafios surgem todos os dias, que devêm do novo paradigma, que atenção, não afecta só o mundo das artes, mas também a organização social, política e económica do mundo. E a conclusão a que se pode chegar é que muitos artistas, intelectuais, críticos e pessoas já estão conscientes e preparados, contudo falta democratizar totalmente à nivel qualitativo este novo paradigma e suas implicações. «En esta sociedade donde tenemos que repensar la dialéctica atención/distracción para ser poco conscientes de quienes somos, cuáles son nuestras capacidades para ver, para compreender más tarde, cuales nuestros traumas, nuestras incapacidades.»<!--[if !supportFootnotes]-->[9]<!--[endif]-->

BIBLIOGRAFIA
BENJAMIN, Walter, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, ed. Relógio d’ Água, Lisboa, 1992
FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Resonancias. Arte y vida. Una lectura de Jacques Rancière, pp. 47-56
FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Outro mundo es posible? Qué puede el arte?, pp.126-143
ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pp.97-105


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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. A utilização destes dois conceitos é significativa, no sentido em que se está a estabelecer o valor da criação artística e do trabalho em si do criador. A expressão espacial (aqui) e temporal (agora) é sempre necessária na compreensão do todo que envolve a obra em si. Porque são estes dois conceitos que emergem em si a autenticidade da obra de arte.
<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> Cf. Sendo este fenómeno da repetição da imagem e da influência dessa na cultura de massas, que levará também à transformação da emoção e da sensação na experiência emotivo – estética.
<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> BENJAMIN, Walter, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, ed. Relógio d’ Água, Lisboa, 1992, pp.108 e 109;
<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Resonancias. Arte y vida. Una lectura de Jacques Rancière, pag.52
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pag.100
<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->  É possível visualizar um vídeo desta instalação pelo seguinte link: http://youtu.be/JZ6cJaGm79E
<!--[if !supportFootnotes]-->[8]<!--[endif]--> ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pag.100

<!--[if !supportFootnotes]-->[9]<!--[endif]--> FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Outro mundo es posible? Qué puede el arte?, pag.140

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