Tuesday 28 February 2012

Eu introspectivo

O absurdo envolve-me.
Cada vez mais compreendo que me constituo de realidades ficcionadas.
Ficções criadas em mim e para mim inconscientes do Outro em si.

A procura de sentido no mundo perdura em meu ser.
Contudo, existem caminhos de eterno retorno que deixam meu ser cansado.
As possibilidades encontram-se totalmente esgotadas.
Sinto a necessidade de superação. A luta deve iniciar-se!
O impossível não pode ser só uma miragem.

O meu universo pertence-me e despertence-me ...
Sinto-me só neste imenso paradoxal que me rodeia. Porém, torno-me consciente de que o Outro em mim acompanha-me.
Confesso, que já o procurei erradamente...
Indaguei-o noutro ente ficcionado, esquecendo o quão ele me é intrínseco. 
Aqui e agora.

Carrego-te em mim.
E no teu Todo desconhecido preciso o Nada conhecer.
Porque 1+1 é igual a 3.

Desperto-me e envolvo-me!
Liberto-me.

O olhar íntimo....
O "Conhece-te a ti mesmo."
Tenho-me procurado, mas percebo que falhei.
Esqueci a dictomia que me substancializa.
A ipseidade e a alteridade.
Eis o mesmo que todos ignoram.

Vou percorrer este rumo enigmático.
Hoje beijo o absurdo em mim.
Amanhã compreenderei que a contradição e a negação de meu ser
serão a força do meu espírito.
A experiência do meu carácter.

A vida.
A morte.
A mutação. O ser vivo e vivido!
O Ser.

Friday 3 February 2012

Manifesto

Manifesta-se aqui e agora a necessidade de propor uma reflexão sobre uma problemática, que tem vindo a afectar profissionais da área do Design Gráfico. Uma problemática que precisa de ser exposta com o objectivo de tentar substancializar a deontologia que emerge no trabalho criativo, técnico, crítico e conceptual de um profissional desta área. Actualmente, existe uma confusão significativa sobre as funções desempenhadas por um artista/designer gráfico e por um designer de multimédia e torna-se, por isso, necessário referir o quão é importante o empregador oferecer-lhe o espaço necessário para cada profissional se possa envolver no seu trabalho de forma total e direccionada à sua formação de forma artística, intelectual e técnica. O que de facto, só se concretiza se o artista gráfico trabalhar com os meios e as ferramentas que caracterizam o seu espaço de empenho profissional. O mesmo se passará com o designer de multimédia. 
A problemática que queremos aqui analisar tem como objectivo educar os que não compreendem a multidisciplinaridade que existe no design e particularmente em duas áreas, que se relacionam no campo de actuação profissional, mas que são totalmente divergentes na forma de actuarem. Distinguindo-se, pelo facto dos seus profissionais utilizarem ferramentas e instrumentos de trabalho diferentes e também pela necessidade de desenvolverem capacidades distintas no seu modo de criação técnica e criativa (contudo, estão relacionadas em si mesmas).
O designer gráfico é um profissional que nutre em si capacidades técnicas, porque trabalha com plataformas específicas (Photoshop, Illustrator e InDesign) que na realidade são as ferramentas que substancializam o seu trabalho na exigência técnica que esta arte gráfica incita em si. 
Como em qualquer arte, o artesão tem de saber trabalhar primeiro uma ideia antes de a praticar no seu espaço físico, ou seja tem de a trabalhar de forma conceptual e criativa, tendo de ser totalmente exigente na sua criação. Para quem não sabe, o design gráfico tem por intuito deontológico comunicar visualmente, ideias e conceitos que irão nutrir em si a tal formalidade técnica referida anteriormente. Esta exigência de que se fala é fundamental em qualquer criação e por sua vez, a dedicação a esta é primordial para o seu alcance, visto que é a primeira ferramenta de trabalho para que qualquer profissional consiga alcançar o Impossível. Por outras palavras, conseguir criar a novidade ou o novo produto que sustentará um bom trabalho criativo e técnico, porque supera o que é possível e o que já existe como possibilidade.
 Fala-se, também, na dedicação, porque actualmente surgindo esta confusão profissional entre as duas áreas referidas torna-se cada vez mais difícil os profissionais de ambas as áreas conseguirem-se dedicar totalmente à essência do seu trabalho. E, acredita-se, que é a dedicação do ser humano que permite desenvolver as suas capacidades cognitivas, criativas e técnicas, que são fundamentais para qualquer profissional evoluir no seu trabalho e conseguir atingir os objectivos que delineia para si e para a sua criação.
Sabe-se por sua vez, que esta problemática nasce de alguns factor circunstanciais do quotidiano, contudo esses não justificam a falta de profissionalismo que tem vindo a caracterizar os empregadores. O facto de estarmos a viver numa situação de crise económica, não justifica que se queira um designer gráfico a trabalhar numa empresa concretizando as suas funções profissionais e as funções de um Web designer nem o vice-versa. Esta situação é insustentável para que o profissional consiga elaborar um bom trabalho, porque a sua formação incide em âmbitos diferentes e apesar de se estar a falar neste caso específico, acredita-se que tal aplica-se a todas as áreas profissionais. 
É possível, que exista algum domínio técnico mútuo sobre as duas áreas, mas será um conhecimento básico e por sua vez insustentável, se o empregador quer que o profissional o domine, deverá investir na formação profissional do seu empregado. Porque ambos os trabalhos necessitam em si de exigência técnica e criativa e para alcançarem tal patamar é preciso nutrirem de especificidades distintas, não se devendo desvalorizar ambos os patamares. Por exemplo, um designer gráfico até pode fazer design para web, mas é necessário compreender que é algo completamente diferente de webdesign, também pode fazer um E-card, uma imagem de apresentação para um produto, preparar as fotos para um slideshow de um website ou até mesmo fazer o layout de um website, mas o designer gráfico não programa em HTML, nem CSS, nem Javascript, nem ActionScript, como o Web designer está formado e preparado para o fazer, porque essas plataformas pertencem às suas específicas ferramentas de trabalho. 
É importante, portanto, que compreender-se que o designer gráfico trata de imagem e texto, trabalhando-os para que sejam visualmente apelativos e que de forma exigente quer alcançar uma qualidade de impressão única (porque não trabalha somente no espaço digital como o Web designer, mas também no espaço físico). Um designer gráfico pode até perceber de webdesign, porém como já foi referido, poderá fazer sem grandes dificuldades um Blog, actualizações em sites ou até mesmo criar um site simples com três ou quatro links. Contundo, o facto de perceber um pouco é completamente diferente de se ser profissional nessa área, o designer gráfico não trata de linhas de código nem de problemas de usabilidade web, porque não está formado para tal. O mesmo se passa com o Web designer, ele pode até ser bom a utilizar o Photoshop como ferramenta de trabalho, pode até conseguir criar cartazes ou meios de comunicação externa, mas repete-se circunstancialmente o mesmo, não foi essa a base da sua formação académica.
E aqui surge por consequência a problemática que se quer expor neste manifesto, o facto desta confusão profissional devir de uma possibilidade de o empregador poupar um salário de forma lucrativa para si e de não se preocupar minimamente com o facto de estar a sobrecarregar um funcionário com funções profissionais que não domina ou de simplesmente nem se lembrar que tem de investir na formação desse. Porque, actualmente, qualquer funcionário/a sabe o quão é importante e benéfico para si aprender a lidar com novas ferramentas de trabalho e na verdade sente essa vontade em si. Todavia, o investimento na formação do profissional por parte do empregador não é comum, o que acaba por assumir em si a consequência actual de se produzir em quantidade e não em qualidade. Concretizando-se massivamente trabalhos carentes de domínio técnico e criativo. Elevando, assim e também a repetição constante de produtos em ambas as áreas: não se incentivando e investindo na criação de novos produtos, que na verdade é o que estimula a evolução em ambas as áreas e a intervenção destas nos campos espaciais e temporais da nossa sociedade. 
É substancial compreender-se que hoje como nunca vivemos na Era da Imagem e que tal factor histórico torna primordial trabalhar de forma exigente as áreas que têm como essência indagativa a Imagem, o seu signo e o seu papel declarativo, exclamativo, interrogativo ou até mesmo imperativo. Tornando-se cada vez mais numa forte linguagem universal que tem por intuito a aproximação das diferentes e possíveis interpretações humanas (racionais e emocionais). O que pode ser benéfico, porém também perigoso!
Não se quer portanto, sobrevalorizar nenhuma área aqui, antes pelo contrário argumenta-se é a necessidade de existir no mercado do trabalho uma relação entre estas duas áreas referidas ao longo do manifesto. Uma empresa terá benefício substancial em possuir um departamento de comunicação, onde a equipa de funcionários seja constituída pelo menos por um designer Gráfico e um Web designer. Porque, ambos trabalharão vocacionados para o seu modus operandi, o que permitirá uma responsabilidade maior na sua produção,e o que se traduzirá por consequente num maior sucesso para os objectivos propostos pelo empregador. A dedicação abraça, portanto, a vontade e emerge em si um desenvolvimento significativo no alcance de objectivos esperados e inesperados, que irão ser valorizados na recepção do público-alvo.
Considera-se fundamental referir esta perspectiva analítica do problema, porque se torna necessário na nossa época em causa investir na formação, na produção e na criação profissional. Não se pode permitir que a falta de profissionalismo estruture a sociedade, numa era em que é necessário cada vez mais trabalhar novos conceitos ou adornar novos sentidos aos antigos. Em períodos de crise é essencial trabalhar a criatividade e desenvolver novos sistemas de significação nas estruturas sociais. Não se pode simplesmente deixar que a ética profissional se deteriore e surja a desresponsabilização total no mundo profissional, sendo por isso necessário que os estudantes e os profissionais sejam conscientes da deontologia da sua profissão, tal como dos meios que necessitam para desenvolverem a sua produção, criação e também os fins que devem alcançar. Esta auto-consciência é um dever na sua vida para compreenderem a necessidade de exigência na sua acção profissional e o como a dedicação deve ser um dos instrumentos necessários para conseguirem trabalhar e não laborar apenas. Só assim, se pode alcançar o ideal da polivalência disciplinar e profissional, primeiro há que definir a vocação interior para depois torná-la aberta ao exterior.
Para terminar, quer-se referir o quão importante é a crítica e a informação que surge dessa. Sendo cada vez mais importante, o profissional saber justificar e argumentar o seu papel no mercado do trabalho. A banalização de signos é uma realidade que cada vez mais atinge o fórum social. E cabe a todas as pessoas o dever de a analisarem e proporem a procura de sentido para as coisas que as rodeiam. E a profissão (o operar) leva-nos a procurar o sentido e a significação numa vocação específica que se interliga de forma multidisciplinar com outras. Sendo importante não esquecer que a profissão é um modo primordial, desde da Antiguidade, para se adquirir saberes necessários que irão cooperar com o desenvolvimento e estruturação de qualquer civilização humana em todos os seus ditames (artísticos, históricos, sociais, económicos, políticos e culturais).

Wednesday 21 September 2011

Ser e Não Ser versus Ser ou Não Ser

O Devir mutável que me preenche está perdido na descoberta do Outro que sou e desconheço em simultâneo. Não temo esse mistério, antes pelo contrário anseio a sua confusão enigmática e procuro a minha não-minha dicotomia existencial. Ser (eu) vivo, Ser (eu) não vivo!
Por isso, não substancializo uma disjunção, mas sim uma conjunção paradoxal que predomina na minha existência como essência e causa de sentido consequente.

Sunday 24 July 2011

Proposta de reflexão (27 de Junho 2011)

Proposta de Reflexão sobre o Ludus Interface
As sombras chinesas e o modo como estas interpolam em si a Realidade com a ficção

Nesta reflexão quer-se indagar sobre as sombras chinesas e no seu próprio modo criativo de exposição. Visto que, nos oferece uma realidade ficcionada em confronto dinâmico com a realidade (real)
Por que razão conceptualizamos a projecção das sombras chinesas como uma realidade ficcionada?
As sombras chinesas permitem-nos um confronto entre o real e a ficção,  porque ao observar a sombra conseguimos consciencializar que nela existe uma representação do real, ou seja, uma ficção visual. A realidade e a ficção são duas expressões artísticas, porém também existencialistas. Todos nós temos a perfeita noção de que estas dimensões fazem parte do nosso intrínseco ser e que a sua expressão caracteriza o nosso devir neste mundo. Contudo, o que nos interessa aqui é reflectir sobre a conceptualização destes dois conceitos no projecto Ludus Interface. 
Nesta performance as sombras chinesas são essenciais para o seu próprio devir, no sentido em que marcam a existência de duas dimensões em si existentes.
Como podemos, portanto, reflectir na conceptualização destas duas dimensões no Ludus Interface? Penso que a resposta a esta problemática insere-se já em dois pólos trabalhados e desenvolvidos na própria performance. Se reflectirmos que na acção dos músicos e no seu trabalho de composição musical encontramos o pólo racionalista e na acção da artista plástica deparamo-nos com uma expressão do pólo sensitivo, o que nos leva a poder iniciar a nossa indagação sobre a dimensão do real e a dimensão da ficção como envolvidas nos dois pólos que referenciamos atrás. É no mundo da razão e das sensações (categorias estas que nos caracterizam como seres humanos) que surge a realidade e a própria ficção. O Ludus Interface leva-nos a mergulhar nesta metáfora conceptual com a nossa existência, que de forma criativa e num modo que tece uma meditação nos seus espectadores envolve um confronto harmónico entre estas duas dimensões (realidade e realidade ficcionada) que em alguns momentos da performance se confundem, estimulando neles, por isso um apelo à sua razão e também às suas emoções.
Indagar na realidade e na ficção da projecção das sombras (chinesas), leva-nos a pensar analiticamente na Alegoria da Caverna de Platão. Como sabemos esta alegoria platónica refere em si um conjunto de homens que vivem numa caverna isolados e aprisionados, que tomam como real na sua visão apenas a própria sombra de si mesmos e dos objectos que os rodeiam. Ou seja, a sua realidade é ficcionada, contudo eles não são conscientes de tal facto.

Porém, um dia um dos indivíduos consegue libertar-se e começa a procurar novos horizontes e consegue sair da caverna. Ao sair depara-se com uma luz imensa e com uma realidade totalmente diferente da escuridão da caverna. O indivíduo quase se cega com tal iluminação tão intensa e sente em si um imenso percepcionado no desconhecido que se lhe apresenta como novo, mas que sempre esteve lá. Sentido-se como um homem novo decide voltar à caverna para descrever este novo mundo que presenciou e como é de esperar os outros não o compreenderam e pensaram que ele falava de uma pura ficção, porque para eles a realidade encontrava-se na caverna e nas sombras dessa. No final, o indivíduo acaba por ficar na caverna sabendo de uma nova realidade existente que o preenchera e o preencherá para o resto da sua vida, mesmo ficando na escuridão com os outros, ele em si possui uma iluminação, uma consciência que lhe oferece uma experiência de vida mais complexa. E porquê mais complexa? Porque é consciente das duas dimensões existenciais, das suas diferenças e divergências e de como a ficção e a realidade podem existir como uma categoria do real na vida humana.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Esta alegoria é importante na conceptualização do projecto Ludus Interface, porque nos permite compreender a essência da percepção das duas realidades que estamos a abordar e também a justificação de introduzirmos o conceito de realidade ficcionada e não apenas ficção. As sombras chinesas oferecem-nos mais do que uma ficção, o espectador nas suas projecções compreende a existência de uma realidade ficcionada. Sabendo que se depara com uma projecção dos músicos e não com os músicos, percebe que a ficção dessa nutre também uma realidade existente, os músicos estão lá, porém não estão presentes de modo directo no seu campo visual, mas estão presentes de modo directo no seu campo auditivo. Estimulando-os, assim, a compreender a expressão da artista plástica, que por vezes parece ser ela também uma projecção, contudo não o é. Presencia-se, assim, um abraço entre as duas dimensões, uma ligação complexa entre dois universos que se preenchem num único Universo repleto de simbólicas artísticas que se interligam às significações existenciais.
Para terminar a reflexão penso que é necessário referir que Ludus Interface possui em si um jogo de ligações complexas entre os artistas e os seus modos de expressão, que nutrem em si uma dinâmica criativa que faz compreender a realidade e a realidade ficcionada sempre presente no mundo das Artes.
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. PLATÃO, A República (Livro VII), 10ª Edição, ed. Fundação Calouste Gulbenkian, pp.315-360

Relatório nº2 (21 de Junho 2011)


  Ludus Interface

Resumo
Neste relatório é primordial reflectir no projecto Ludus Interface contextualizando o seu envolvimento no mundo contemporâneo da composição musical, da pintura, da performance, e também na sua conceptualização filosófica presente como estética na criação artística que constitui. 
Abstract
In this report it’s primordial to reflect in Ludus Interface project contextualizing it’s involvement in the contemporary world of musical composition, painting, performance and also in it’s phiolosophical conceptualizacion present as aesthetics in the artistic creation that is.

Para compreendermos o projecto Ludus Interface é importante perceber a sua contextualização pós-modernista. O mundo pós-moderno trouxe consigo transformações que marcaram profundamente todas as áreas criativas humanas. Como sabemos esta Era leva-nos a entender um princípio máximo de complexidade e de radicalidade que está em relação intrínseca com a existência do ser humano e do Universo que o rodeia. Relembra-se, portanto, descobertas significativas como a Relatividade de Einstein, a Incerteza de Heisenberg, ou o Efeito Borboleta da Ciência do Caos que dialecticamente contrapuseram as doutrinas clássicas do mundo pluridisciplinar do Conhecimento Humano, como o da física, da arte ou até mesmo da filosofia.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Surge assim um processo de transformação imenso nas diversas ramificações do Saber que proporcionam uma mutabilidade incrível na própria criação humana e na sua conceptualização, devendo-se ao facto de existir uma profunda relação entre estas novas descobertas e o novo modo de vida paradigmático da existência humana. «Transformação é, em suma, o principal fenómeno de constituição dos novos sentidos desse mundo.»<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]-->
É nestes novos sentidos que a nossa reflexão quer incidir, visto que é neles que se traduz a nova conceptualização do mundo artístico e das outras áreas do saber que o envolvem. Porque se formos indagar nesta questão do mundo pós-moderno sabemos que nele criou-se uma ligação fundamental entre a criação artística e a criação tecnológica, esta última que se caracteriza como impulsionadora dos novos fenómenos que decorrem nas investigações contemporâneas. Podemos dar o exemplo do projecto “9 Evenings” que surgiu nos anos sessenta e foi considerado como um dos grandes projectos que tomou por objectivo maior o desenvolvimento da criação artística com auxilio da tecnologia. «9 Evenings was the first large-scale collaboration between artists and engineers and scientists. The two groups worked together for 10 months to develop technical equipment and systems that were used as an integral part for artists performances. »<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]-->
A expressão artística ganha, então, um poder imenso que permitiu empenhar em si uma hipersensibilidade, que afecta agora totalmente os públicos de uma maneira intensa e de forma sensorial, para além da cognitiva e racional. Esta hipersensibilidade nutre em si esses novos sentidos que envolvem uma nova conceptualização na criação artística e na sua estética. E é neles e nela que queremos pensar filosoficamente para levar o leitor à compreensão do Projecto Ludus Interface.
Este projecto envolve em si a doutrina da Arte Conceptual, ou seja existe em si uma «tendência artística que se inspira en el arte conceptual de la década de 1960, si bien concede mayor importancia al impulso narrativo.»<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->  A sua narrativa consiste num envolvimento em simultâneo de vários artistas que abraçam em si várias disciplinas artísticas, como a música (Jazz), a pintura e a performance. Libertando entre si uma energia totalmente pós-moderna caracterizada pela complexidade, pelo acaso, pela improvisação, pelo tempo real, pela imaginação, pelo paradoxo, pela narrativa, pelo acto artístico, pela criatividade, pelo novo paradigma, pela decisão humana e pelo mundo tecnológico. E é esta rede de conceitos que torna o projecto rico na sua conceptualização e na sua procura de sentido.
O Ludus Interface leva os artistas a mergulharem numa expressão artística que contrapõe em si o convencional. E que por consequente, origina uma possibilidade ou até podemos considerar uma tarefa de interpretação hermenêutica por parte dos próprios artistas e também dos diversos públicos aos quais o projecto se apresentará.
«A Hermenêutica não tem como objectivo a posse de conhecimentos e coisas, mas pretende simplesmente trazer à consideração dos filósofos algo que foi esquecido: a necessidade de pensar a forma de mediação que efectuam os ideários comuns transmitidos pela tradição histórica e literária. Segundo Gadamer, uma tal mediação, porque faz pensar e transmite práticas de relacionamento e de comunicação, exige execução criativa e pode ajudar a ultrapassar a redução do homem ao agir mecânico dos dias de hoje.»<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]-->
Este excerto foi escolhido com o intuito de explicar ao leitor a importância da compreensão de existir uma relação de interpretação no acto artístico deste projecto e que esse ocorre em ambas as partes, ou seja, nos intérpretes e nos interpretantes. E que na “leitura” da simbólica existirá de forma paralela uma narrativa conceptual e um contexto histórico que formata e desformata o próprio projecto. A hermenêutica pode fundamentar a construção de sentido e do hipersentido que o Ludus Interface cria e recria em si mesmo, sendo um projecto totalmente aberto em si e para si, ou seja não cria uma clausura de sentido. E este fenómeno demonstra a sua complexidade pós-moderna, porque podemos reflectir na sua aproximação ao mundo que nos rodeia cheio de significações e sentidos que predominam hoje numa fórmula holística e que essa se aproxima do conceito Universal que os filósofos desde sempre estudaram.
E o porquê de falarmos deste conceito abstracto que é o Universal? Como em todas as áreas do saber a própria arte tem de inserir em si a complexidade de ser humano e por isso introduzir o paradoxo da sua existência envolvida num todo que envolve em si diversas partes em relação proporcional e desproporcional continua. Porque «La desproporción entre el principio del placer y el principio de la felicidade es la que descubre el significado propriamente humano del conflicto.»<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> Sendo cada vez mais necessário envolvermo-nos numa criação que se aproxime ao que somos e a narrativa artística tem todos os meios neste momento que a possa traduzir de forma sensorial e cognitiva. E o hipertexto permite esta liberdade para a criação de espaços e técnicas que nos envolvem numa representação do conhecimento totalmente actualizada. «O conceito de hipertexto, por sua vez, é espantosamente simples: trata-se de um texto que pode ser percorrido de diversas formas, não contendo a priori princípio ou fim.» Ou seja, mantém em si uma abertura complexa ao seu devir e continuidade existencial.
E este projecto envolve em si, sem dúvida alguma, um esforço de trabalhar esta conceptualização na sua narrativa, visto que mesmo sendo auxiliado de meios tecnológicos como a programação que irá permitir uma transformação nas partituras e na sua composição musical gráfica, levando-nos também a compreender a necessidade e o esforço da criatividade humana, que eventualmente se elevará autonomamente perante a própria tecnologia. Esta é um meio e a criação do fim deste é estabelecida pela incompreensão da complexidade do acto artístico da própria máquina, onde surgirá o acto de criação e criativo humano para que o projecto fique em aberto.
«Especialmente numa época quando o uso do poder e da tecnologia mantêm-se focados na concentração de riqueza, belicosidade e dominação da natureza (…) é necessário que uma das principais funções da arte seja a de expressar ideias e sentimentos fundamentais para o ser humano (…). Num contexto como esse, a exigência sobre a criatividade do artista é altíssima já que não basta inovar no que é dito mas, complementarmente, na forma de estruturar o discurso»<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->
Para terminar, queremos que o leitor entenda aqui o conceito de discurso como a narrativa que está envolvida no próprio projecto e no seu acto artístico. Porque mesmo não sendo essa comunicada em palavras comuns, nutre em si uma comunicação de conceitos importantes para a compreensão da nossa existência. A linguagem artística do Ludus Interface leva-nos a viajar pelo tempo-real do paradoxo e pela improvisação no acaso que se assemelha totalmente à da nossa própria existência que na sua circusntancialidade enigmática nos caracteriza humanamente.


Bibliografia

GROSENICK, Uta, ART NOW vol.2 “La Nueva Guía con 136 Artistas Contemporaneous Internacionales., ed. Taschen;

PORTOCARRERO-SILVA, Maria Luísa, Os Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica, Coimbra, 2010;

PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999;

RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D);

http://www.9evenings.org/; 17 de Junho de 2011 (11h.45m)
<!--[if !supportFootnotes]-->


<!--[endif]-->
<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999, pag.1
<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->  GROSENICK, Uta, ART NOW vol.2 “La Nueva Guía con 136 Artistas Contemporaneous Internacionales., ed. Taschen,pag.556

<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> PORTOCARRERO-SILVA, Maria Luísa, Os Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica, Coimbra, 2010, pp.2-3
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D), pag. 123

[7] PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999, pag.3



Relatório nº1 (6 de Junho 2011)

Neste relatório é primordial reflectir na transformação artística e política da imagem. Sendo necessário pensar esta problemática com a contextualização da passagem do mundo moderno para o mundo pós-moderno e no nascimento de um novo paradigma

In this report it’s essential to reflect upon the artistic and political transformation of image, being required to think in this problematic according to the context of transaction from the modern world to the post modern world, as in the birth of a new paradigm.

Como se sabe a objectivação e a racionalidade caracterizava a criação e a estética no modernismo e por consequente a subjectivação tornou-se a máxima idiossincrasia no pós-modernismo. A superação do modernismo deu-se pelo esgotamento da criação artística no seu sentido de outrora e pelo início da reprodução técnica no mundo artístico. Estes dois fenómenos criaram um impacto complexo no mundo das artes e relaciona-se totalmente com as transformações sociais, económicas e políticas no início do século XX que levaram a uma intensiva mudança no mundo ocidental, o que possibilitou o nascimento de um novo paradigma no meio artístico e não só. Este novo paradigma é o objecto de estudo desta reflexão, porque nos permite pensar como inicialmente as suas consequências foram negativas, visto que permitiu mudanças estrondosas no mundo da arte como por exemplo a troca do seu valor de culto, pelo valor de exposição. Porém, após alguns anos e decádas os artistas transformam essas mudanças e fazem surgir nas suas criações um poder de crítica e de criatividade imenso e complexo, que leva o antigo valor de uma contemplação do belo e do feio, a uma contemplação crítica das nossas sociedades complexas e desenvolvidas.
Segundo Walter Benjamin foi a reprodução técnica da imagem artística que fez surgir um dominio superficial da obra de arte, que trouxe ao mundo das artes mudanças significativas inclusive a perda da Aura Artística. Para ele esta Aura concentrava em si toda a espiritualidade e magia que a originalidade derivada da criação artística possuia, sendo esta a especificidade da sua existência, ou seja, o seu aqui e agora<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->. Para Benjamin, uma obra autêtica está justificada no seu fazer manual e na sua continuidade substancial que se traduz na sua autoridade. Acreditando, que a própria reprodução técnica iria  fazer esta autoridade cair na própria decadência visual das artes, pelo facto de essa ser mais autónoma e independente da criação humana. É importante, compreender que a obra autêntica concentra em si uma transmissão ao espectadr individual da sua duração material, e portanto do seu testemundo histórico, de uma época, de um contexto social ou de um movimento especifico, que intitula em si uma representação única de um momento particular, escolhido pelo autor dum imenso por si percepcionado. Envolvendo um ritual, que permite a obra de arte ganhar em si um valor de culto (que era próprio da natureza primária da representação artística), enquanto a obra produzidada tecnicamente passa a ter um valor imenso no formato de exposição. O que leva a perda da aura, segundo Benjamin, visto que a autoridade da obra de arte se perdera na exposição repetida. Esta conceptualização da repetição<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> é muito interessante, porque permite reflectir no modo como essa é direccionada à cultura de massas.
Considera-se necessário reflectir aqui neste pensamento, porque Benjamin introduz uma crítica a cultura de massas e ao seu espaço comum de reunião acrítica. Para o pensador o facto do espectador se envolver colectivamente num público faz com que se perca a essência da experiência estética, no sentido em que essa deve ser pessoal e envolver em cada individuo uma reflexão individual e sensorial. Surge assim no seu ponto de vista uma indústria artística que precisa de públicos que não compreendam o valor de culto da arte, mas sim que sintam e reflictam apenas o valor expositivo da produção e reprodução artística. Nascendo uma nova prespectiva analítica da arte, pobre na sua introspecção. “ O convencional é apreciado acriticamente e o que é verdadeiramente novo é críticado com aversão.”<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> Percebe-se, assim, que a criação de públicos leva a uma observação simultânea de vários indivíduos das obras de arte, o que por consequência ele acreditava que levaria o indivíduo a controlar as suas próprias reacções, perante o que observa. Para o autor a constituição de públicos e de massas proletarizadas são provenientes de uma pressão política, dando o exemplo de que « o fascismo vê a sua salvação no facto de permitir às massas que se exprimam mas, de modo nenhum, que exerçam os seus direitos (...) o fascismo acaba por introduzir uma estetização da vida política.(...) O comunismo responde-lhe com a politização da arte.»<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]--> Com a reprodutibilidade técnica passa a haver um reforço na manipulação de informação com o intuito de criar a ilusão de que tudo se mantém e nada se alterou totalmente. Portanto consegue-se equilibrar sentimentos no indivíduo, elevando a sua natureza social, à estrutura colectiva da sociedade, ou seja, da cultura de massas. Emerge-se, assim, um novo paradigma que implica em si a democratização da arte.
Esta prespectiva de Walter Benjamin é importante para compreender-se o impacto deste novo paradigma no mundo artístico e como a política se relaciona inteiramente com ele, porque presenciamos o fenómeno da reconfiguração simbólica e de signos com o intuito de persuadir uma experiência no público. «Cuando las práticas y las formas de visibilidade del arte intervienen en la division de lo sensible y en su reconfiguración, entonces nos situamos en medio de la relacion entre estética y politica.»<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> A relação entre arte e política marca profundamente o início do século XX e o modo como essa influenciou a nossa cultura até aos dias de hoje. E como esta relação caracteriza a nossa actualidade quotidiana é extremamente importante reflectir nela e nas problemáticas que envolveu e envolve em si. Não falaremos de movimentos especifícos, mas sim na importância conceptual e simbólica de novos conceitos artísticos que surgem com este paradigma.
 O ser humano, como se sabe, possui uma capacidade imensa de adaptação ao real objectivado, porém também possui a capacidade de transformação, no sentido em que é crítico, criativo e que a dinâmica do seu pensamento traduz em si uma subjectividade imensa. Esta subjectividade traduz-se como a idiossincrasia máxima da transformação que se assiste no novo paradigma. Transformação no sentido, em que este novo sistema artístico poderia ter limitado os próprios horizontes artísticos, devido aos novos valores introduzidos que Benjamin reflecte criticamente. Contudo, não foi isso que aconteceu! Apesar de se ter criado uma cultura de massas mais quantitativa do que qualitativa, existe qualidade artística que pronuncia em si um discurso simbólico muito rico e com um poder estético de reflexão imensa.
A arte sempre manteve em si simbólicas da vida e que se traduziram ao longo dos tempos como testemunhos de excelência. Interpretações significativas que predominam na identidade da humanidade e na especificidade temporal e espacial de cada época. E tal fenómeno continua no nosso quotiadiano pós-moderno. Actualmente, o valor de exposição caracteriza-se simbioticamente com o valor de culto artístico. Assistimos hoje, por isso, na criação artística além do valor estético também a presença do valor ético. Tal circunstância deve-se ao facto da relação da arte com a política e como essa caracteriza totalmente o devir existencial do ser humano. A criação artística envolve em si um universo subjectivo e existencial do seu autor, um culto à vida que agora se substancializa no valor expositivo da sua obra. «As intervenções artísticas que afirmam a força política que lhes é inerente seriam aquelas que fazem a partir do modo como as forças do presente afectam o corpo do artista.»<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]-->  A subjectividade supera a objectividade de outrora, no sentido em que no mundo real já não é possível sustentar o mundo rigoroso e racionalista da objectividade. E o artista demonstra-o. O sistema é superado, porque no próprio século XX assiste-se a mudanças drásticas e a factos históricos que não poderão cair no esquecimento da humanidade. Participarão sempre na sua identidade e demonstram o paradoxo existencial entre a proporção e a desproporção do ser humano.
Esta análise é uma possibilidade para compreender, também, o peso significativo de conceptualidade que muitas expressões artisticas possuem hoje na sua contemporaneidade e que esse pode ser indagado como algo positivo no mundo das artes. Visto que, não contribui para o acriticismo dos diversos públicos existentes, ou seja, da própria cultura de massas, o que é importante como objecto de estudo, porque o fenómeno desta cultura é próprio do paradigma pós-moderno. Podemos dar aqui, o exemplo das instalações de Nam June Paik que nos traduzem um mundo onde a contemplação visual é brutalmente imposta no nosso campo de visão, ou como essa contemplação tem sofrido imensas distorções  perante o campo do real e o campo da ficção, levando à própria confusão de conceitos. Outro exemplo do peso significativo da conceptualidade na expressão artística contemporânea é a instalação de Doug Atitken em suporte video “Migration - Installation View<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->”. Aqui o artista expõe segmentos de imagens repetidas e continuadas que nos traduzem uma imensa crítica às nossas socidades, levando o espectador a meditar em problemáticas do nosso quotidiano como por exemplo especifismo. Estes exemplos demonstram-nos a capacidade da arte e da própria indústria artística possibilitarem-nos entender como é que os novos meios tecnológicos podem suportar em si uma substancialização da arte e não só a decadência visual como conhecemos no seu uso banal, comercial e quantitativo (exemplo do quotidiano, a própria publicidade). A reprodução técnica permitiu o alcance dos suportes tecnológicos visuais e é necessário compreender que estes irão manter na Imagem sempre uma dictomia entre o qualitativo e o quantitativo mundo simbólico que esta transportará em si para o exterior. É importante meditar, portanto, nesta possibilidade de representar artísticamente uma crítica conceptual que traduzirá na experiência estética, mas agora também ética do espectador numa viagem que transportará em si signos e simbolos que envolvem o mundo quotidiano, mas também porque demonstra uma dinâmica incrível de criação e uma criatividade única e potencializada. «Ativam-se (assim) outros modos de relação com as imagens, outras formas de percepção e recepção, mas também e sobretudo, de invenção e expressão. Elas podem implicar novas políticas da subjectividade e sua relação com o mundo, ou seja, novas configurações do inconsciente no campo social, as quais redesenham a sua cartografia.»<!--[if !supportFootnotes]-->[8]<!--[endif]-->
Para terminar este pequeno relatório sobre a Imagem artística e as suas transformações, considera-se necessário afirmar que o discurso conceptual e simbólico presente nas novas expressões artísticas podem traduzir-se como um compreensão da subjectividade que envolve a existência humana. Sendo esta a grande idiossincrasia que caracteriza a humanidade e possibilita no novo paradigma, um novo início para o agir e o pensar humano. Estamos num novo século, num novo milénio e é necessário contribuir com uma nova história para a identidade da própria humanidade. O conhecimento de nós próprios como espécie é preciso e é um processo complexo de aprendizagem. Novos desafios surgem todos os dias, que devêm do novo paradigma, que atenção, não afecta só o mundo das artes, mas também a organização social, política e económica do mundo. E a conclusão a que se pode chegar é que muitos artistas, intelectuais, críticos e pessoas já estão conscientes e preparados, contudo falta democratizar totalmente à nivel qualitativo este novo paradigma e suas implicações. «En esta sociedade donde tenemos que repensar la dialéctica atención/distracción para ser poco conscientes de quienes somos, cuáles son nuestras capacidades para ver, para compreender más tarde, cuales nuestros traumas, nuestras incapacidades.»<!--[if !supportFootnotes]-->[9]<!--[endif]-->

BIBLIOGRAFIA
BENJAMIN, Walter, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, ed. Relógio d’ Água, Lisboa, 1992
FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Resonancias. Arte y vida. Una lectura de Jacques Rancière, pp. 47-56
FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Outro mundo es posible? Qué puede el arte?, pp.126-143
ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pp.97-105


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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. A utilização destes dois conceitos é significativa, no sentido em que se está a estabelecer o valor da criação artística e do trabalho em si do criador. A expressão espacial (aqui) e temporal (agora) é sempre necessária na compreensão do todo que envolve a obra em si. Porque são estes dois conceitos que emergem em si a autenticidade da obra de arte.
<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> Cf. Sendo este fenómeno da repetição da imagem e da influência dessa na cultura de massas, que levará também à transformação da emoção e da sensação na experiência emotivo – estética.
<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> BENJAMIN, Walter, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, ed. Relógio d’ Água, Lisboa, 1992, pp.108 e 109;
<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Resonancias. Arte y vida. Una lectura de Jacques Rancière, pag.52
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pag.100
<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->  É possível visualizar um vídeo desta instalação pelo seguinte link: http://youtu.be/JZ6cJaGm79E
<!--[if !supportFootnotes]-->[8]<!--[endif]--> ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pag.100

<!--[if !supportFootnotes]-->[9]<!--[endif]--> FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Outro mundo es posible? Qué puede el arte?, pag.140

Wednesday 1 June 2011

O processo de criação na consciência crítica


A reflexão do curso substancializa-se no entendimento do processo de criação e na análise deste como um princípio existencial na consciência crítica. Para compreendermos este processo é necessário a análise de conceitos fundamentais que em relação o substancializam e o tornam possível na sua impossibilidade. Para iniciarmos esta análise é importante indagar no conceito de sistema e na sua relação com o da cultura, porque nos possibilitarão entender a própria estrutura social que predomina e caracteriza na sua pluralidade a Humanidade. Com o exemplo de excelência da cultura grega no século V a.C. iremos compreender como a cultura envolve em si um meio popular, cínico e também crítico.
Após esta caracterização conceptual do sistema é necessário introduzir o conceito de consciência e o modo como esta se envolve na cultura. Entendendo a importância substancial da consciência crítica e do seu modus operandi que lhe permite uma distinção complexa das outras consciências, iniciamos o estudo das especificidades de ser consciência crítica. A consciência crítica e a sua atitude perante o mundo traduzem em si um estado autêntico e totalmente lúcido de ser em si e para si. Esta consciência nutre em si um desejo intensificado pelo impossível, consistindo esse numa busca contínua que envolve o seu trabalho de exigência com o objectivo de superar todas as condicionantes do possível e do próprio ego na sua existência. Porque o ego é uma deturpação do real e emerge em si comportamentos cínicos que não permitem o alcance de um pensamento ético necessário para a rede de intencionalidades existente na própria humanidade.
Para terminar esta primeira síntese conceptual das temáticas abordadas no curso iremos relacionar o estado autêntico da consciência crítica com o facto de ela reconhecer perfeitamente a sua finitude e a finitude do Todo. Não temendo a morte elabora em si uma exigência crítica, que permitirá uma transformação significativa nela mesma. Esta transformação é o processo de criação, derivado de uma resimplificação da consciência crítica. Sendo ela totalmente consciente de que não é a criação em si mesma que interessa valorativamente, mas sim o processo e o trabalho em si que este envolve.


1.SISTEMA & SISTEMAS
A Cultura popular, cínica e crítica. Exemplo da cultura grega no século V a.C.

 Primeiro há que compreender que sistema traduz em si uma configuração que possui uma estrutura interna que regula e comporta os seus valores e que por sua vez existem diversos tipos de sistema. Chegando aqui entendemos que é na sua diferença que encontramos as idiossincrasias de cada civilização e sua cultura. Contudo como podemos reflectir criticamente nas suas diferenças?
Podemos referir de modo adjectivado que existem sistemas fechados ou abertos e também simples ou complexos. E indagando na sua base estrutural binária é possível descobrir a possibilidade e impossibilidade das suas circunstâncias culturais. Num sistema simples podemos compreender que as consciências nutrem em si uma reprodução do mesmo, enquanto num sistema complexo as consciências exigem mais de si e procuram uma reprodução do diferente. Um bom exemplo a trabalhar aqui é o da cultura grega no século V a.C., que por sua vez teve como base um sistema aberto e complexo.
O sistema da cultura grega é delineado pela cultura popular (maioria da população) e pela cultura cínica e crítica (minoria importante da população: cidadãos). Estas três culturas são importantes na sustentabilidade da Cultura em si mesma, mas como podemos compreender as suas divergências? Como já referimos no parágrafo anterior, as divergências encontram-se no modo de reprodução das consciências, ou seja, no modo como estas assumem a sua própria existência perante o Todo. Na cultura grega perante a crise (krisis/ decisão) surge uma transformação na cultura cínica que permitiu o desenvolvimento da cultura crítica. Muitas consciências cínicas exigiram em si uma transmutação intelectual que permitiu o alcance de um estado de reflexão crítica sobre o meio físico que as rodeava. Que levou consequentemente à superação do simples estado de reflexão em si mesma e em prol do próprio beneficio.
Tomando consciência de que vive num sistema que possui uma rede de intencionalidade a própria consciência crítica é obrigada a reconhecer a alteridade existente no mundo. O Outro e a consciência deste envolve uma reflexão necessária para a compreensão do indivíduo, porque o outro está presente nas suas relações existenciais e estas caracterizam-no e substancializam-no. Podemos, também, reflectir que as consciências estão todas interligadas, mas que existe uma relação intrínseca entre a consciência cínica e a consciência crítica.
Atenção não há aqui um estado superior de consciência (não há uma escala), mas sim um estado mais complexo que se traduz no próprio esforço e exigência que a consciência induz no seu exercício de pensar (ginástica), trabalho e na sua própria existência. Uma atitude ou uma escolha de vida que se concretiza num caminho delineado pela própria consciência em si e para si no mundo que conhece e sabe que desconhece.

2.O DESEJO PELO IMPOSSÍVEL
O desvio, o “estar perdido” e o modus operandi da Consciência Crítica.

Como começamos a perceber a consciência crítica exige bastante de si mesma. A sua diferenciação da consciente cínica consiste no facto de ela procurar no seu trabalho um bem que vá para além do benefício próprio. Procurando compreender a existência de forma reflexiva e crítica, sabe da sua pequenez perante o todo e reconhecendo a sua finitude procura viver de forma autêntica. Não procura o reconhecimento de si mesma, mas sim uma reflexão exigente e holística do mundo que nutra em si uma procura intensiva do impossível e do seu sentido. Como nos começamos a aperceber a consciência crítica possui um desejo (eros) imenso pelo Impossível. Este desejo não é voluntário e deve-se ao facto da consciência crítica ter uma tendência significativa para o desvio. E porquê? Porque a consciência crítica procura “estar perdida” nas problemáticas da existência. Não procura verdades, nem conceptualiza com certeza as possibilidades. Esta consciência quer envolver-se na impossibilidade da existência, quer transformar-se com ela e compreender o nada que se emerge na própria existência.
Tudo começa com a transformação de si mesma. A consciência crítica entende a necessidade de exigir de si e de superar em si condicionantes que aprendeu na sua formação pedagógica e existencial como um objectivo vital. Ir para além do axioma, do óbvio e do evidente é um estímulo para que o processo de transformação se inicie e comece a ocorrer na consciência e na sua própria existência. Sendo este o processo que lhe permite chegar ao processo de criação.
A consciência crítica quer trabalhar nesse processo e desenvolver o seu estar crítico no mundo. A crítica é um princípio existencial que a caracteriza em tudo e é um esforço cognitivo bastante exigente que lhe permitirá um envolvimento criativo no mundo do conhecimento (no seu carácter multidisciplinar).
É necessário compreender que presenciamos um sacrifício, porque esta exigência é o seu modus operandi e a consciência sabe que essa tendencialmente aumentará e não estagnará. Contudo é um sacrifício que se traduz numa vontade crítica que permite um desafio existencial muito complexo e é somente a consciência crítica que o aceita até ao seu fim. Uma atitude autêntica perante a própria complexidade da vida.

3.A MORTE
A finitude do ser humano e do Todo.

A consciência crítica não teme o seu fim e tem a perfeita noção que na vida humana tudo é temporário e nada é fixo. Não acredita em ilusões e utopias que ditem uma “realidade” para além da morte. Ironizando por completo ideias fantásticas de uma imortalidade e eternidade. E o mais importante é que não substancializa, nem sustenta o seu trabalho com ideias de um reconhecimento post mortem, porque sabe que o próprio mundo como conhecemos não é fixo, nem o próprio Universo.
A morte conceptualmente faz parte do ser como a própria vida. O morrer é como estar não nascido e por isso a consciência crítica não faz declarações cínicas nem se ilude de tal forma sobre o seu fim. Simplesmente vive e complexamente tenta aproveitar o máximo que a vida tem para lhe oferecer. Ela procura essa oferta desconstruindo e construindo, buscando o sentido da própria existência e das significações que sustenta em si e para si.
É importante reflectirmos nesta problemática, visto que ainda hoje a não-aceitação da morte e a sua não compreensão é um facto existencial. É necessário compreender que reflectir na finitude e que a consciencialização dessa pode traduzir-se numa transformação significativa na procura de sentido da própria existência. Até porque se raciocinarmos um pouco não tem muito sentido ser, sem compreender o que implica ser. Como em tudo, há um início e um fim e a consciência desses dois patamares é que torna a coisa, coisa em si.

4.A CRIAÇÃO E O TRABALHO EM SI
O valor da criação não se encontra na criação.

Para terminar esta primeira síntese conceptual da matéria sumariada nas aulas do curso, determinamos como essencial a compreensão de encontrar o lugar do valor na criação da consciência crítica. Até agora, estivemos aqui a falar das condições a que se propõe a consciência crítica para o alcance do processo de criação em si. Como já sabemos, este processo deve-se a um processo complexo de transformação da consciência, que lhe permite um mergulho exigente e vital no mundo da impossibilidade.

Como, também, já se referiu a consciência crítica conhece a complexidade do outro em si. Sendo totalmente consciente deste facto e da existência de uma rede de intencionalidades que também a caracteriza, resulta a posteriori um momento em si de resimplificação. E é neste momento que no seu trabalho começa a surgir um carácter criador. E porquê? Porque é neste momento primordial que a consciência alcança uma libertação do seu ego muito significativa para o seu trabalho em si.
Para compreendermos melhor esta questão e a necessidade desta resimplificação na consciência crítica vamos levantar, portanto, a questão do Valor: Onde está o valor na criação ou no trabalho em si envolvido em todo o processo?
Para uma consciência cínica de certo que o valor está na sua criação. Porquê? Porque esta consciência dita o seu próprio reconhecimento (ou seja, auto reconhece-se como) e na verdade esta acredita que a sua criação dita também o seu valor como criador. Pensa condicionadamente em etapas e não em termos de exigência. Facilmente uma consciência como esta já se encontra estagnada há algum tempo (e não tem consciência de tal facto), porque acredita que está no patamar que deve estar e que a prova disso é a sua criação. Esta ideia é cínica e pobre de espírito crítico. Acreditando na obra, não se desenvolve e assume em si uma auto importância que só traduz o ego de si mesma.
No processo de criação é necessária a libertação do ego, porque este contamina a consciência e o trabalho dessa. O valor não está na criação, mas sim no trabalho, no esforço e na exigência que a consciência deve impor a si para superar todas as condicionantes existentes. O ego é a maior condição da consciência. E sendo consciente disto, a consciência crítica valoriza sim o trabalho e sente-se insatisfeita perante qualquer criação sua.
Para a consciência crítica a criação é somente um pequeno momento desse grande desafio (o trabalho em si) que envolve a própria complexidade do processo. A consciência crítica não desiste e sabe que o erro resulta na aprendizagem dessa mesma complexidade. Não se reconhece a si mesma, mas é capaz de reconhecer o outro. A sua exigência é fulcral em todo o processo de transformação e por isso também na sua própria existência. E por fim ela acredita que é neste esforço que está a possibilidade da impossibilidade de alcançar em si e para si um devir existencial autêntico perante o Todo complexo que a rodeia. Um respeito “crítico filosófico” perante a consciência de se estar vivo!
*

Após esta pequena síntese conceptual é importante reflectir que ser consciência crítica é realmente um desafio e nem todos o podem conseguir concretizar. Há imensas condicionantes em jogo e o melhor exemplo estará na configuração do sistema da própria cultura onde o indivíduo está inserido. Contudo, é sempre uma boa exigência para impor à nossa consciência, porque iremos procurar no nosso devir até onde conseguimos ir. É um desafio, um teste, um exame e como sabemos é necessário criar exercícios em nós mesmos para praticar a ginástica complexa do pensamento. Porque se realmente podemos pensar, racionalizar, argumentar ou criticar é bom que desenvolvamos ao máximo o que podemos e o que achamos não poder. Ir para além na vida é essencial e não o ir para além da vida. É no aqui e no agora que nos temos de propor escolher o que queremos para a nossa vida. A vida é curta e é de facto a nossa primeira e a ultima actuação neste mundo, portanto cabe a cada consciência escolher o que deseja para si. Penso, que não há aqui um caminho certo ou errado, mas sim caminhos simples ou complexos.
É importante saber que a consciência crítica é tolerante com o outro e não discrimina a simplicidade de consciências existentes, quer que o seu trabalho seja para todos. Contudo, tem a noção crítica de que o melhor modo do seu trabalho ser avaliado é que outras consciências críticas o avaliem. Não gosta, também, de aplausos e reconhecimentos cínicos e é por isso que o seu pensamento tem uma dimensão ética complexa e que está presente na sua reflexão crítica perante a exigência como modus operandi e como modo de estar e ser perante a vida.  
Termino o meu pequeno trabalho afirmando a importância desta temática e o seu interesse, pelo facto de nos permitir reflectir num ideal existencial que envolve em si princípios críticos e éticos que actuam no modo de se ser e no modo de se agir. Como é evidente, neste pequeno texto não está presente toda a conceptualidade que a teoria da consciência crítica suporta em si mesma, mas sim uma parte que penso ser essencial para a compreensão de que existe um processo de transformação na consciência para ela se tornar crítica. E que esse é muito complexo e exigente, contudo permite uma superação das condicionantes do possível e uma abertura às não limitações da impossibilidade na própria existência.