Wednesday 21 September 2011

Ser e Não Ser versus Ser ou Não Ser

O Devir mutável que me preenche está perdido na descoberta do Outro que sou e desconheço em simultâneo. Não temo esse mistério, antes pelo contrário anseio a sua confusão enigmática e procuro a minha não-minha dicotomia existencial. Ser (eu) vivo, Ser (eu) não vivo!
Por isso, não substancializo uma disjunção, mas sim uma conjunção paradoxal que predomina na minha existência como essência e causa de sentido consequente.

Sunday 24 July 2011

Proposta de reflexão (27 de Junho 2011)

Proposta de Reflexão sobre o Ludus Interface
As sombras chinesas e o modo como estas interpolam em si a Realidade com a ficção

Nesta reflexão quer-se indagar sobre as sombras chinesas e no seu próprio modo criativo de exposição. Visto que, nos oferece uma realidade ficcionada em confronto dinâmico com a realidade (real)
Por que razão conceptualizamos a projecção das sombras chinesas como uma realidade ficcionada?
As sombras chinesas permitem-nos um confronto entre o real e a ficção,  porque ao observar a sombra conseguimos consciencializar que nela existe uma representação do real, ou seja, uma ficção visual. A realidade e a ficção são duas expressões artísticas, porém também existencialistas. Todos nós temos a perfeita noção de que estas dimensões fazem parte do nosso intrínseco ser e que a sua expressão caracteriza o nosso devir neste mundo. Contudo, o que nos interessa aqui é reflectir sobre a conceptualização destes dois conceitos no projecto Ludus Interface. 
Nesta performance as sombras chinesas são essenciais para o seu próprio devir, no sentido em que marcam a existência de duas dimensões em si existentes.
Como podemos, portanto, reflectir na conceptualização destas duas dimensões no Ludus Interface? Penso que a resposta a esta problemática insere-se já em dois pólos trabalhados e desenvolvidos na própria performance. Se reflectirmos que na acção dos músicos e no seu trabalho de composição musical encontramos o pólo racionalista e na acção da artista plástica deparamo-nos com uma expressão do pólo sensitivo, o que nos leva a poder iniciar a nossa indagação sobre a dimensão do real e a dimensão da ficção como envolvidas nos dois pólos que referenciamos atrás. É no mundo da razão e das sensações (categorias estas que nos caracterizam como seres humanos) que surge a realidade e a própria ficção. O Ludus Interface leva-nos a mergulhar nesta metáfora conceptual com a nossa existência, que de forma criativa e num modo que tece uma meditação nos seus espectadores envolve um confronto harmónico entre estas duas dimensões (realidade e realidade ficcionada) que em alguns momentos da performance se confundem, estimulando neles, por isso um apelo à sua razão e também às suas emoções.
Indagar na realidade e na ficção da projecção das sombras (chinesas), leva-nos a pensar analiticamente na Alegoria da Caverna de Platão. Como sabemos esta alegoria platónica refere em si um conjunto de homens que vivem numa caverna isolados e aprisionados, que tomam como real na sua visão apenas a própria sombra de si mesmos e dos objectos que os rodeiam. Ou seja, a sua realidade é ficcionada, contudo eles não são conscientes de tal facto.

Porém, um dia um dos indivíduos consegue libertar-se e começa a procurar novos horizontes e consegue sair da caverna. Ao sair depara-se com uma luz imensa e com uma realidade totalmente diferente da escuridão da caverna. O indivíduo quase se cega com tal iluminação tão intensa e sente em si um imenso percepcionado no desconhecido que se lhe apresenta como novo, mas que sempre esteve lá. Sentido-se como um homem novo decide voltar à caverna para descrever este novo mundo que presenciou e como é de esperar os outros não o compreenderam e pensaram que ele falava de uma pura ficção, porque para eles a realidade encontrava-se na caverna e nas sombras dessa. No final, o indivíduo acaba por ficar na caverna sabendo de uma nova realidade existente que o preenchera e o preencherá para o resto da sua vida, mesmo ficando na escuridão com os outros, ele em si possui uma iluminação, uma consciência que lhe oferece uma experiência de vida mais complexa. E porquê mais complexa? Porque é consciente das duas dimensões existenciais, das suas diferenças e divergências e de como a ficção e a realidade podem existir como uma categoria do real na vida humana.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Esta alegoria é importante na conceptualização do projecto Ludus Interface, porque nos permite compreender a essência da percepção das duas realidades que estamos a abordar e também a justificação de introduzirmos o conceito de realidade ficcionada e não apenas ficção. As sombras chinesas oferecem-nos mais do que uma ficção, o espectador nas suas projecções compreende a existência de uma realidade ficcionada. Sabendo que se depara com uma projecção dos músicos e não com os músicos, percebe que a ficção dessa nutre também uma realidade existente, os músicos estão lá, porém não estão presentes de modo directo no seu campo visual, mas estão presentes de modo directo no seu campo auditivo. Estimulando-os, assim, a compreender a expressão da artista plástica, que por vezes parece ser ela também uma projecção, contudo não o é. Presencia-se, assim, um abraço entre as duas dimensões, uma ligação complexa entre dois universos que se preenchem num único Universo repleto de simbólicas artísticas que se interligam às significações existenciais.
Para terminar a reflexão penso que é necessário referir que Ludus Interface possui em si um jogo de ligações complexas entre os artistas e os seus modos de expressão, que nutrem em si uma dinâmica criativa que faz compreender a realidade e a realidade ficcionada sempre presente no mundo das Artes.
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. PLATÃO, A República (Livro VII), 10ª Edição, ed. Fundação Calouste Gulbenkian, pp.315-360

Relatório nº2 (21 de Junho 2011)


  Ludus Interface

Resumo
Neste relatório é primordial reflectir no projecto Ludus Interface contextualizando o seu envolvimento no mundo contemporâneo da composição musical, da pintura, da performance, e também na sua conceptualização filosófica presente como estética na criação artística que constitui. 
Abstract
In this report it’s primordial to reflect in Ludus Interface project contextualizing it’s involvement in the contemporary world of musical composition, painting, performance and also in it’s phiolosophical conceptualizacion present as aesthetics in the artistic creation that is.

Para compreendermos o projecto Ludus Interface é importante perceber a sua contextualização pós-modernista. O mundo pós-moderno trouxe consigo transformações que marcaram profundamente todas as áreas criativas humanas. Como sabemos esta Era leva-nos a entender um princípio máximo de complexidade e de radicalidade que está em relação intrínseca com a existência do ser humano e do Universo que o rodeia. Relembra-se, portanto, descobertas significativas como a Relatividade de Einstein, a Incerteza de Heisenberg, ou o Efeito Borboleta da Ciência do Caos que dialecticamente contrapuseram as doutrinas clássicas do mundo pluridisciplinar do Conhecimento Humano, como o da física, da arte ou até mesmo da filosofia.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Surge assim um processo de transformação imenso nas diversas ramificações do Saber que proporcionam uma mutabilidade incrível na própria criação humana e na sua conceptualização, devendo-se ao facto de existir uma profunda relação entre estas novas descobertas e o novo modo de vida paradigmático da existência humana. «Transformação é, em suma, o principal fenómeno de constituição dos novos sentidos desse mundo.»<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]-->
É nestes novos sentidos que a nossa reflexão quer incidir, visto que é neles que se traduz a nova conceptualização do mundo artístico e das outras áreas do saber que o envolvem. Porque se formos indagar nesta questão do mundo pós-moderno sabemos que nele criou-se uma ligação fundamental entre a criação artística e a criação tecnológica, esta última que se caracteriza como impulsionadora dos novos fenómenos que decorrem nas investigações contemporâneas. Podemos dar o exemplo do projecto “9 Evenings” que surgiu nos anos sessenta e foi considerado como um dos grandes projectos que tomou por objectivo maior o desenvolvimento da criação artística com auxilio da tecnologia. «9 Evenings was the first large-scale collaboration between artists and engineers and scientists. The two groups worked together for 10 months to develop technical equipment and systems that were used as an integral part for artists performances. »<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]-->
A expressão artística ganha, então, um poder imenso que permitiu empenhar em si uma hipersensibilidade, que afecta agora totalmente os públicos de uma maneira intensa e de forma sensorial, para além da cognitiva e racional. Esta hipersensibilidade nutre em si esses novos sentidos que envolvem uma nova conceptualização na criação artística e na sua estética. E é neles e nela que queremos pensar filosoficamente para levar o leitor à compreensão do Projecto Ludus Interface.
Este projecto envolve em si a doutrina da Arte Conceptual, ou seja existe em si uma «tendência artística que se inspira en el arte conceptual de la década de 1960, si bien concede mayor importancia al impulso narrativo.»<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->  A sua narrativa consiste num envolvimento em simultâneo de vários artistas que abraçam em si várias disciplinas artísticas, como a música (Jazz), a pintura e a performance. Libertando entre si uma energia totalmente pós-moderna caracterizada pela complexidade, pelo acaso, pela improvisação, pelo tempo real, pela imaginação, pelo paradoxo, pela narrativa, pelo acto artístico, pela criatividade, pelo novo paradigma, pela decisão humana e pelo mundo tecnológico. E é esta rede de conceitos que torna o projecto rico na sua conceptualização e na sua procura de sentido.
O Ludus Interface leva os artistas a mergulharem numa expressão artística que contrapõe em si o convencional. E que por consequente, origina uma possibilidade ou até podemos considerar uma tarefa de interpretação hermenêutica por parte dos próprios artistas e também dos diversos públicos aos quais o projecto se apresentará.
«A Hermenêutica não tem como objectivo a posse de conhecimentos e coisas, mas pretende simplesmente trazer à consideração dos filósofos algo que foi esquecido: a necessidade de pensar a forma de mediação que efectuam os ideários comuns transmitidos pela tradição histórica e literária. Segundo Gadamer, uma tal mediação, porque faz pensar e transmite práticas de relacionamento e de comunicação, exige execução criativa e pode ajudar a ultrapassar a redução do homem ao agir mecânico dos dias de hoje.»<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]-->
Este excerto foi escolhido com o intuito de explicar ao leitor a importância da compreensão de existir uma relação de interpretação no acto artístico deste projecto e que esse ocorre em ambas as partes, ou seja, nos intérpretes e nos interpretantes. E que na “leitura” da simbólica existirá de forma paralela uma narrativa conceptual e um contexto histórico que formata e desformata o próprio projecto. A hermenêutica pode fundamentar a construção de sentido e do hipersentido que o Ludus Interface cria e recria em si mesmo, sendo um projecto totalmente aberto em si e para si, ou seja não cria uma clausura de sentido. E este fenómeno demonstra a sua complexidade pós-moderna, porque podemos reflectir na sua aproximação ao mundo que nos rodeia cheio de significações e sentidos que predominam hoje numa fórmula holística e que essa se aproxima do conceito Universal que os filósofos desde sempre estudaram.
E o porquê de falarmos deste conceito abstracto que é o Universal? Como em todas as áreas do saber a própria arte tem de inserir em si a complexidade de ser humano e por isso introduzir o paradoxo da sua existência envolvida num todo que envolve em si diversas partes em relação proporcional e desproporcional continua. Porque «La desproporción entre el principio del placer y el principio de la felicidade es la que descubre el significado propriamente humano del conflicto.»<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> Sendo cada vez mais necessário envolvermo-nos numa criação que se aproxime ao que somos e a narrativa artística tem todos os meios neste momento que a possa traduzir de forma sensorial e cognitiva. E o hipertexto permite esta liberdade para a criação de espaços e técnicas que nos envolvem numa representação do conhecimento totalmente actualizada. «O conceito de hipertexto, por sua vez, é espantosamente simples: trata-se de um texto que pode ser percorrido de diversas formas, não contendo a priori princípio ou fim.» Ou seja, mantém em si uma abertura complexa ao seu devir e continuidade existencial.
E este projecto envolve em si, sem dúvida alguma, um esforço de trabalhar esta conceptualização na sua narrativa, visto que mesmo sendo auxiliado de meios tecnológicos como a programação que irá permitir uma transformação nas partituras e na sua composição musical gráfica, levando-nos também a compreender a necessidade e o esforço da criatividade humana, que eventualmente se elevará autonomamente perante a própria tecnologia. Esta é um meio e a criação do fim deste é estabelecida pela incompreensão da complexidade do acto artístico da própria máquina, onde surgirá o acto de criação e criativo humano para que o projecto fique em aberto.
«Especialmente numa época quando o uso do poder e da tecnologia mantêm-se focados na concentração de riqueza, belicosidade e dominação da natureza (…) é necessário que uma das principais funções da arte seja a de expressar ideias e sentimentos fundamentais para o ser humano (…). Num contexto como esse, a exigência sobre a criatividade do artista é altíssima já que não basta inovar no que é dito mas, complementarmente, na forma de estruturar o discurso»<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->
Para terminar, queremos que o leitor entenda aqui o conceito de discurso como a narrativa que está envolvida no próprio projecto e no seu acto artístico. Porque mesmo não sendo essa comunicada em palavras comuns, nutre em si uma comunicação de conceitos importantes para a compreensão da nossa existência. A linguagem artística do Ludus Interface leva-nos a viajar pelo tempo-real do paradoxo e pela improvisação no acaso que se assemelha totalmente à da nossa própria existência que na sua circusntancialidade enigmática nos caracteriza humanamente.


Bibliografia

GROSENICK, Uta, ART NOW vol.2 “La Nueva Guía con 136 Artistas Contemporaneous Internacionales., ed. Taschen;

PORTOCARRERO-SILVA, Maria Luísa, Os Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica, Coimbra, 2010;

PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999;

RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D);

http://www.9evenings.org/; 17 de Junho de 2011 (11h.45m)
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999, pag.1
<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->  GROSENICK, Uta, ART NOW vol.2 “La Nueva Guía con 136 Artistas Contemporaneous Internacionales., ed. Taschen,pag.556

<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> PORTOCARRERO-SILVA, Maria Luísa, Os Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica, Coimbra, 2010, pp.2-3
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D), pag. 123

[7] PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999, pag.3



Relatório nº1 (6 de Junho 2011)

Neste relatório é primordial reflectir na transformação artística e política da imagem. Sendo necessário pensar esta problemática com a contextualização da passagem do mundo moderno para o mundo pós-moderno e no nascimento de um novo paradigma

In this report it’s essential to reflect upon the artistic and political transformation of image, being required to think in this problematic according to the context of transaction from the modern world to the post modern world, as in the birth of a new paradigm.

Como se sabe a objectivação e a racionalidade caracterizava a criação e a estética no modernismo e por consequente a subjectivação tornou-se a máxima idiossincrasia no pós-modernismo. A superação do modernismo deu-se pelo esgotamento da criação artística no seu sentido de outrora e pelo início da reprodução técnica no mundo artístico. Estes dois fenómenos criaram um impacto complexo no mundo das artes e relaciona-se totalmente com as transformações sociais, económicas e políticas no início do século XX que levaram a uma intensiva mudança no mundo ocidental, o que possibilitou o nascimento de um novo paradigma no meio artístico e não só. Este novo paradigma é o objecto de estudo desta reflexão, porque nos permite pensar como inicialmente as suas consequências foram negativas, visto que permitiu mudanças estrondosas no mundo da arte como por exemplo a troca do seu valor de culto, pelo valor de exposição. Porém, após alguns anos e decádas os artistas transformam essas mudanças e fazem surgir nas suas criações um poder de crítica e de criatividade imenso e complexo, que leva o antigo valor de uma contemplação do belo e do feio, a uma contemplação crítica das nossas sociedades complexas e desenvolvidas.
Segundo Walter Benjamin foi a reprodução técnica da imagem artística que fez surgir um dominio superficial da obra de arte, que trouxe ao mundo das artes mudanças significativas inclusive a perda da Aura Artística. Para ele esta Aura concentrava em si toda a espiritualidade e magia que a originalidade derivada da criação artística possuia, sendo esta a especificidade da sua existência, ou seja, o seu aqui e agora<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->. Para Benjamin, uma obra autêtica está justificada no seu fazer manual e na sua continuidade substancial que se traduz na sua autoridade. Acreditando, que a própria reprodução técnica iria  fazer esta autoridade cair na própria decadência visual das artes, pelo facto de essa ser mais autónoma e independente da criação humana. É importante, compreender que a obra autêntica concentra em si uma transmissão ao espectadr individual da sua duração material, e portanto do seu testemundo histórico, de uma época, de um contexto social ou de um movimento especifico, que intitula em si uma representação única de um momento particular, escolhido pelo autor dum imenso por si percepcionado. Envolvendo um ritual, que permite a obra de arte ganhar em si um valor de culto (que era próprio da natureza primária da representação artística), enquanto a obra produzidada tecnicamente passa a ter um valor imenso no formato de exposição. O que leva a perda da aura, segundo Benjamin, visto que a autoridade da obra de arte se perdera na exposição repetida. Esta conceptualização da repetição<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> é muito interessante, porque permite reflectir no modo como essa é direccionada à cultura de massas.
Considera-se necessário reflectir aqui neste pensamento, porque Benjamin introduz uma crítica a cultura de massas e ao seu espaço comum de reunião acrítica. Para o pensador o facto do espectador se envolver colectivamente num público faz com que se perca a essência da experiência estética, no sentido em que essa deve ser pessoal e envolver em cada individuo uma reflexão individual e sensorial. Surge assim no seu ponto de vista uma indústria artística que precisa de públicos que não compreendam o valor de culto da arte, mas sim que sintam e reflictam apenas o valor expositivo da produção e reprodução artística. Nascendo uma nova prespectiva analítica da arte, pobre na sua introspecção. “ O convencional é apreciado acriticamente e o que é verdadeiramente novo é críticado com aversão.”<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> Percebe-se, assim, que a criação de públicos leva a uma observação simultânea de vários indivíduos das obras de arte, o que por consequência ele acreditava que levaria o indivíduo a controlar as suas próprias reacções, perante o que observa. Para o autor a constituição de públicos e de massas proletarizadas são provenientes de uma pressão política, dando o exemplo de que « o fascismo vê a sua salvação no facto de permitir às massas que se exprimam mas, de modo nenhum, que exerçam os seus direitos (...) o fascismo acaba por introduzir uma estetização da vida política.(...) O comunismo responde-lhe com a politização da arte.»<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]--> Com a reprodutibilidade técnica passa a haver um reforço na manipulação de informação com o intuito de criar a ilusão de que tudo se mantém e nada se alterou totalmente. Portanto consegue-se equilibrar sentimentos no indivíduo, elevando a sua natureza social, à estrutura colectiva da sociedade, ou seja, da cultura de massas. Emerge-se, assim, um novo paradigma que implica em si a democratização da arte.
Esta prespectiva de Walter Benjamin é importante para compreender-se o impacto deste novo paradigma no mundo artístico e como a política se relaciona inteiramente com ele, porque presenciamos o fenómeno da reconfiguração simbólica e de signos com o intuito de persuadir uma experiência no público. «Cuando las práticas y las formas de visibilidade del arte intervienen en la division de lo sensible y en su reconfiguración, entonces nos situamos en medio de la relacion entre estética y politica.»<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> A relação entre arte e política marca profundamente o início do século XX e o modo como essa influenciou a nossa cultura até aos dias de hoje. E como esta relação caracteriza a nossa actualidade quotidiana é extremamente importante reflectir nela e nas problemáticas que envolveu e envolve em si. Não falaremos de movimentos especifícos, mas sim na importância conceptual e simbólica de novos conceitos artísticos que surgem com este paradigma.
 O ser humano, como se sabe, possui uma capacidade imensa de adaptação ao real objectivado, porém também possui a capacidade de transformação, no sentido em que é crítico, criativo e que a dinâmica do seu pensamento traduz em si uma subjectividade imensa. Esta subjectividade traduz-se como a idiossincrasia máxima da transformação que se assiste no novo paradigma. Transformação no sentido, em que este novo sistema artístico poderia ter limitado os próprios horizontes artísticos, devido aos novos valores introduzidos que Benjamin reflecte criticamente. Contudo, não foi isso que aconteceu! Apesar de se ter criado uma cultura de massas mais quantitativa do que qualitativa, existe qualidade artística que pronuncia em si um discurso simbólico muito rico e com um poder estético de reflexão imensa.
A arte sempre manteve em si simbólicas da vida e que se traduziram ao longo dos tempos como testemunhos de excelência. Interpretações significativas que predominam na identidade da humanidade e na especificidade temporal e espacial de cada época. E tal fenómeno continua no nosso quotiadiano pós-moderno. Actualmente, o valor de exposição caracteriza-se simbioticamente com o valor de culto artístico. Assistimos hoje, por isso, na criação artística além do valor estético também a presença do valor ético. Tal circunstância deve-se ao facto da relação da arte com a política e como essa caracteriza totalmente o devir existencial do ser humano. A criação artística envolve em si um universo subjectivo e existencial do seu autor, um culto à vida que agora se substancializa no valor expositivo da sua obra. «As intervenções artísticas que afirmam a força política que lhes é inerente seriam aquelas que fazem a partir do modo como as forças do presente afectam o corpo do artista.»<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]-->  A subjectividade supera a objectividade de outrora, no sentido em que no mundo real já não é possível sustentar o mundo rigoroso e racionalista da objectividade. E o artista demonstra-o. O sistema é superado, porque no próprio século XX assiste-se a mudanças drásticas e a factos históricos que não poderão cair no esquecimento da humanidade. Participarão sempre na sua identidade e demonstram o paradoxo existencial entre a proporção e a desproporção do ser humano.
Esta análise é uma possibilidade para compreender, também, o peso significativo de conceptualidade que muitas expressões artisticas possuem hoje na sua contemporaneidade e que esse pode ser indagado como algo positivo no mundo das artes. Visto que, não contribui para o acriticismo dos diversos públicos existentes, ou seja, da própria cultura de massas, o que é importante como objecto de estudo, porque o fenómeno desta cultura é próprio do paradigma pós-moderno. Podemos dar aqui, o exemplo das instalações de Nam June Paik que nos traduzem um mundo onde a contemplação visual é brutalmente imposta no nosso campo de visão, ou como essa contemplação tem sofrido imensas distorções  perante o campo do real e o campo da ficção, levando à própria confusão de conceitos. Outro exemplo do peso significativo da conceptualidade na expressão artística contemporânea é a instalação de Doug Atitken em suporte video “Migration - Installation View<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->”. Aqui o artista expõe segmentos de imagens repetidas e continuadas que nos traduzem uma imensa crítica às nossas socidades, levando o espectador a meditar em problemáticas do nosso quotidiano como por exemplo especifismo. Estes exemplos demonstram-nos a capacidade da arte e da própria indústria artística possibilitarem-nos entender como é que os novos meios tecnológicos podem suportar em si uma substancialização da arte e não só a decadência visual como conhecemos no seu uso banal, comercial e quantitativo (exemplo do quotidiano, a própria publicidade). A reprodução técnica permitiu o alcance dos suportes tecnológicos visuais e é necessário compreender que estes irão manter na Imagem sempre uma dictomia entre o qualitativo e o quantitativo mundo simbólico que esta transportará em si para o exterior. É importante meditar, portanto, nesta possibilidade de representar artísticamente uma crítica conceptual que traduzirá na experiência estética, mas agora também ética do espectador numa viagem que transportará em si signos e simbolos que envolvem o mundo quotidiano, mas também porque demonstra uma dinâmica incrível de criação e uma criatividade única e potencializada. «Ativam-se (assim) outros modos de relação com as imagens, outras formas de percepção e recepção, mas também e sobretudo, de invenção e expressão. Elas podem implicar novas políticas da subjectividade e sua relação com o mundo, ou seja, novas configurações do inconsciente no campo social, as quais redesenham a sua cartografia.»<!--[if !supportFootnotes]-->[8]<!--[endif]-->
Para terminar este pequeno relatório sobre a Imagem artística e as suas transformações, considera-se necessário afirmar que o discurso conceptual e simbólico presente nas novas expressões artísticas podem traduzir-se como um compreensão da subjectividade que envolve a existência humana. Sendo esta a grande idiossincrasia que caracteriza a humanidade e possibilita no novo paradigma, um novo início para o agir e o pensar humano. Estamos num novo século, num novo milénio e é necessário contribuir com uma nova história para a identidade da própria humanidade. O conhecimento de nós próprios como espécie é preciso e é um processo complexo de aprendizagem. Novos desafios surgem todos os dias, que devêm do novo paradigma, que atenção, não afecta só o mundo das artes, mas também a organização social, política e económica do mundo. E a conclusão a que se pode chegar é que muitos artistas, intelectuais, críticos e pessoas já estão conscientes e preparados, contudo falta democratizar totalmente à nivel qualitativo este novo paradigma e suas implicações. «En esta sociedade donde tenemos que repensar la dialéctica atención/distracción para ser poco conscientes de quienes somos, cuáles son nuestras capacidades para ver, para compreender más tarde, cuales nuestros traumas, nuestras incapacidades.»<!--[if !supportFootnotes]-->[9]<!--[endif]-->

BIBLIOGRAFIA
BENJAMIN, Walter, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, ed. Relógio d’ Água, Lisboa, 1992
FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Resonancias. Arte y vida. Una lectura de Jacques Rancière, pp. 47-56
FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Outro mundo es posible? Qué puede el arte?, pp.126-143
ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pp.97-105


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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. A utilização destes dois conceitos é significativa, no sentido em que se está a estabelecer o valor da criação artística e do trabalho em si do criador. A expressão espacial (aqui) e temporal (agora) é sempre necessária na compreensão do todo que envolve a obra em si. Porque são estes dois conceitos que emergem em si a autenticidade da obra de arte.
<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> Cf. Sendo este fenómeno da repetição da imagem e da influência dessa na cultura de massas, que levará também à transformação da emoção e da sensação na experiência emotivo – estética.
<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]--> BENJAMIN, Walter, Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, ed. Relógio d’ Água, Lisboa, 1992, pp.108 e 109;
<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Resonancias. Arte y vida. Una lectura de Jacques Rancière, pag.52
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pag.100
<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->  É possível visualizar um vídeo desta instalação pelo seguinte link: http://youtu.be/JZ6cJaGm79E
<!--[if !supportFootnotes]-->[8]<!--[endif]--> ROLNIK, Suely, Furor do arquivo, pag.100

<!--[if !supportFootnotes]-->[9]<!--[endif]--> FERNÁNDEZ-POLANCO, Aurora, Outro mundo es posible? Qué puede el arte?, pag.140

Wednesday 1 June 2011

O processo de criação na consciência crítica


A reflexão do curso substancializa-se no entendimento do processo de criação e na análise deste como um princípio existencial na consciência crítica. Para compreendermos este processo é necessário a análise de conceitos fundamentais que em relação o substancializam e o tornam possível na sua impossibilidade. Para iniciarmos esta análise é importante indagar no conceito de sistema e na sua relação com o da cultura, porque nos possibilitarão entender a própria estrutura social que predomina e caracteriza na sua pluralidade a Humanidade. Com o exemplo de excelência da cultura grega no século V a.C. iremos compreender como a cultura envolve em si um meio popular, cínico e também crítico.
Após esta caracterização conceptual do sistema é necessário introduzir o conceito de consciência e o modo como esta se envolve na cultura. Entendendo a importância substancial da consciência crítica e do seu modus operandi que lhe permite uma distinção complexa das outras consciências, iniciamos o estudo das especificidades de ser consciência crítica. A consciência crítica e a sua atitude perante o mundo traduzem em si um estado autêntico e totalmente lúcido de ser em si e para si. Esta consciência nutre em si um desejo intensificado pelo impossível, consistindo esse numa busca contínua que envolve o seu trabalho de exigência com o objectivo de superar todas as condicionantes do possível e do próprio ego na sua existência. Porque o ego é uma deturpação do real e emerge em si comportamentos cínicos que não permitem o alcance de um pensamento ético necessário para a rede de intencionalidades existente na própria humanidade.
Para terminar esta primeira síntese conceptual das temáticas abordadas no curso iremos relacionar o estado autêntico da consciência crítica com o facto de ela reconhecer perfeitamente a sua finitude e a finitude do Todo. Não temendo a morte elabora em si uma exigência crítica, que permitirá uma transformação significativa nela mesma. Esta transformação é o processo de criação, derivado de uma resimplificação da consciência crítica. Sendo ela totalmente consciente de que não é a criação em si mesma que interessa valorativamente, mas sim o processo e o trabalho em si que este envolve.


1.SISTEMA & SISTEMAS
A Cultura popular, cínica e crítica. Exemplo da cultura grega no século V a.C.

 Primeiro há que compreender que sistema traduz em si uma configuração que possui uma estrutura interna que regula e comporta os seus valores e que por sua vez existem diversos tipos de sistema. Chegando aqui entendemos que é na sua diferença que encontramos as idiossincrasias de cada civilização e sua cultura. Contudo como podemos reflectir criticamente nas suas diferenças?
Podemos referir de modo adjectivado que existem sistemas fechados ou abertos e também simples ou complexos. E indagando na sua base estrutural binária é possível descobrir a possibilidade e impossibilidade das suas circunstâncias culturais. Num sistema simples podemos compreender que as consciências nutrem em si uma reprodução do mesmo, enquanto num sistema complexo as consciências exigem mais de si e procuram uma reprodução do diferente. Um bom exemplo a trabalhar aqui é o da cultura grega no século V a.C., que por sua vez teve como base um sistema aberto e complexo.
O sistema da cultura grega é delineado pela cultura popular (maioria da população) e pela cultura cínica e crítica (minoria importante da população: cidadãos). Estas três culturas são importantes na sustentabilidade da Cultura em si mesma, mas como podemos compreender as suas divergências? Como já referimos no parágrafo anterior, as divergências encontram-se no modo de reprodução das consciências, ou seja, no modo como estas assumem a sua própria existência perante o Todo. Na cultura grega perante a crise (krisis/ decisão) surge uma transformação na cultura cínica que permitiu o desenvolvimento da cultura crítica. Muitas consciências cínicas exigiram em si uma transmutação intelectual que permitiu o alcance de um estado de reflexão crítica sobre o meio físico que as rodeava. Que levou consequentemente à superação do simples estado de reflexão em si mesma e em prol do próprio beneficio.
Tomando consciência de que vive num sistema que possui uma rede de intencionalidade a própria consciência crítica é obrigada a reconhecer a alteridade existente no mundo. O Outro e a consciência deste envolve uma reflexão necessária para a compreensão do indivíduo, porque o outro está presente nas suas relações existenciais e estas caracterizam-no e substancializam-no. Podemos, também, reflectir que as consciências estão todas interligadas, mas que existe uma relação intrínseca entre a consciência cínica e a consciência crítica.
Atenção não há aqui um estado superior de consciência (não há uma escala), mas sim um estado mais complexo que se traduz no próprio esforço e exigência que a consciência induz no seu exercício de pensar (ginástica), trabalho e na sua própria existência. Uma atitude ou uma escolha de vida que se concretiza num caminho delineado pela própria consciência em si e para si no mundo que conhece e sabe que desconhece.

2.O DESEJO PELO IMPOSSÍVEL
O desvio, o “estar perdido” e o modus operandi da Consciência Crítica.

Como começamos a perceber a consciência crítica exige bastante de si mesma. A sua diferenciação da consciente cínica consiste no facto de ela procurar no seu trabalho um bem que vá para além do benefício próprio. Procurando compreender a existência de forma reflexiva e crítica, sabe da sua pequenez perante o todo e reconhecendo a sua finitude procura viver de forma autêntica. Não procura o reconhecimento de si mesma, mas sim uma reflexão exigente e holística do mundo que nutra em si uma procura intensiva do impossível e do seu sentido. Como nos começamos a aperceber a consciência crítica possui um desejo (eros) imenso pelo Impossível. Este desejo não é voluntário e deve-se ao facto da consciência crítica ter uma tendência significativa para o desvio. E porquê? Porque a consciência crítica procura “estar perdida” nas problemáticas da existência. Não procura verdades, nem conceptualiza com certeza as possibilidades. Esta consciência quer envolver-se na impossibilidade da existência, quer transformar-se com ela e compreender o nada que se emerge na própria existência.
Tudo começa com a transformação de si mesma. A consciência crítica entende a necessidade de exigir de si e de superar em si condicionantes que aprendeu na sua formação pedagógica e existencial como um objectivo vital. Ir para além do axioma, do óbvio e do evidente é um estímulo para que o processo de transformação se inicie e comece a ocorrer na consciência e na sua própria existência. Sendo este o processo que lhe permite chegar ao processo de criação.
A consciência crítica quer trabalhar nesse processo e desenvolver o seu estar crítico no mundo. A crítica é um princípio existencial que a caracteriza em tudo e é um esforço cognitivo bastante exigente que lhe permitirá um envolvimento criativo no mundo do conhecimento (no seu carácter multidisciplinar).
É necessário compreender que presenciamos um sacrifício, porque esta exigência é o seu modus operandi e a consciência sabe que essa tendencialmente aumentará e não estagnará. Contudo é um sacrifício que se traduz numa vontade crítica que permite um desafio existencial muito complexo e é somente a consciência crítica que o aceita até ao seu fim. Uma atitude autêntica perante a própria complexidade da vida.

3.A MORTE
A finitude do ser humano e do Todo.

A consciência crítica não teme o seu fim e tem a perfeita noção que na vida humana tudo é temporário e nada é fixo. Não acredita em ilusões e utopias que ditem uma “realidade” para além da morte. Ironizando por completo ideias fantásticas de uma imortalidade e eternidade. E o mais importante é que não substancializa, nem sustenta o seu trabalho com ideias de um reconhecimento post mortem, porque sabe que o próprio mundo como conhecemos não é fixo, nem o próprio Universo.
A morte conceptualmente faz parte do ser como a própria vida. O morrer é como estar não nascido e por isso a consciência crítica não faz declarações cínicas nem se ilude de tal forma sobre o seu fim. Simplesmente vive e complexamente tenta aproveitar o máximo que a vida tem para lhe oferecer. Ela procura essa oferta desconstruindo e construindo, buscando o sentido da própria existência e das significações que sustenta em si e para si.
É importante reflectirmos nesta problemática, visto que ainda hoje a não-aceitação da morte e a sua não compreensão é um facto existencial. É necessário compreender que reflectir na finitude e que a consciencialização dessa pode traduzir-se numa transformação significativa na procura de sentido da própria existência. Até porque se raciocinarmos um pouco não tem muito sentido ser, sem compreender o que implica ser. Como em tudo, há um início e um fim e a consciência desses dois patamares é que torna a coisa, coisa em si.

4.A CRIAÇÃO E O TRABALHO EM SI
O valor da criação não se encontra na criação.

Para terminar esta primeira síntese conceptual da matéria sumariada nas aulas do curso, determinamos como essencial a compreensão de encontrar o lugar do valor na criação da consciência crítica. Até agora, estivemos aqui a falar das condições a que se propõe a consciência crítica para o alcance do processo de criação em si. Como já sabemos, este processo deve-se a um processo complexo de transformação da consciência, que lhe permite um mergulho exigente e vital no mundo da impossibilidade.

Como, também, já se referiu a consciência crítica conhece a complexidade do outro em si. Sendo totalmente consciente deste facto e da existência de uma rede de intencionalidades que também a caracteriza, resulta a posteriori um momento em si de resimplificação. E é neste momento que no seu trabalho começa a surgir um carácter criador. E porquê? Porque é neste momento primordial que a consciência alcança uma libertação do seu ego muito significativa para o seu trabalho em si.
Para compreendermos melhor esta questão e a necessidade desta resimplificação na consciência crítica vamos levantar, portanto, a questão do Valor: Onde está o valor na criação ou no trabalho em si envolvido em todo o processo?
Para uma consciência cínica de certo que o valor está na sua criação. Porquê? Porque esta consciência dita o seu próprio reconhecimento (ou seja, auto reconhece-se como) e na verdade esta acredita que a sua criação dita também o seu valor como criador. Pensa condicionadamente em etapas e não em termos de exigência. Facilmente uma consciência como esta já se encontra estagnada há algum tempo (e não tem consciência de tal facto), porque acredita que está no patamar que deve estar e que a prova disso é a sua criação. Esta ideia é cínica e pobre de espírito crítico. Acreditando na obra, não se desenvolve e assume em si uma auto importância que só traduz o ego de si mesma.
No processo de criação é necessária a libertação do ego, porque este contamina a consciência e o trabalho dessa. O valor não está na criação, mas sim no trabalho, no esforço e na exigência que a consciência deve impor a si para superar todas as condicionantes existentes. O ego é a maior condição da consciência. E sendo consciente disto, a consciência crítica valoriza sim o trabalho e sente-se insatisfeita perante qualquer criação sua.
Para a consciência crítica a criação é somente um pequeno momento desse grande desafio (o trabalho em si) que envolve a própria complexidade do processo. A consciência crítica não desiste e sabe que o erro resulta na aprendizagem dessa mesma complexidade. Não se reconhece a si mesma, mas é capaz de reconhecer o outro. A sua exigência é fulcral em todo o processo de transformação e por isso também na sua própria existência. E por fim ela acredita que é neste esforço que está a possibilidade da impossibilidade de alcançar em si e para si um devir existencial autêntico perante o Todo complexo que a rodeia. Um respeito “crítico filosófico” perante a consciência de se estar vivo!
*

Após esta pequena síntese conceptual é importante reflectir que ser consciência crítica é realmente um desafio e nem todos o podem conseguir concretizar. Há imensas condicionantes em jogo e o melhor exemplo estará na configuração do sistema da própria cultura onde o indivíduo está inserido. Contudo, é sempre uma boa exigência para impor à nossa consciência, porque iremos procurar no nosso devir até onde conseguimos ir. É um desafio, um teste, um exame e como sabemos é necessário criar exercícios em nós mesmos para praticar a ginástica complexa do pensamento. Porque se realmente podemos pensar, racionalizar, argumentar ou criticar é bom que desenvolvamos ao máximo o que podemos e o que achamos não poder. Ir para além na vida é essencial e não o ir para além da vida. É no aqui e no agora que nos temos de propor escolher o que queremos para a nossa vida. A vida é curta e é de facto a nossa primeira e a ultima actuação neste mundo, portanto cabe a cada consciência escolher o que deseja para si. Penso, que não há aqui um caminho certo ou errado, mas sim caminhos simples ou complexos.
É importante saber que a consciência crítica é tolerante com o outro e não discrimina a simplicidade de consciências existentes, quer que o seu trabalho seja para todos. Contudo, tem a noção crítica de que o melhor modo do seu trabalho ser avaliado é que outras consciências críticas o avaliem. Não gosta, também, de aplausos e reconhecimentos cínicos e é por isso que o seu pensamento tem uma dimensão ética complexa e que está presente na sua reflexão crítica perante a exigência como modus operandi e como modo de estar e ser perante a vida.  
Termino o meu pequeno trabalho afirmando a importância desta temática e o seu interesse, pelo facto de nos permitir reflectir num ideal existencial que envolve em si princípios críticos e éticos que actuam no modo de se ser e no modo de se agir. Como é evidente, neste pequeno texto não está presente toda a conceptualidade que a teoria da consciência crítica suporta em si mesma, mas sim uma parte que penso ser essencial para a compreensão de que existe um processo de transformação na consciência para ela se tornar crítica. E que esse é muito complexo e exigente, contudo permite uma superação das condicionantes do possível e uma abertura às não limitações da impossibilidade na própria existência.

Friday 8 April 2011

A exigência é primordial

«A exigência deve permanecer em nós revelando-se como uma busca contínua do impossível. Esta revela-se como nessária no processo de criação.


O impossível obriga-nos a superar as condições do mundo possível. Trabalhar o conceito do impossível na nossa educação intelectual é essencial.  Para que se possa entender e compreender com profundidade os conceitos que caracterizam o nosso sistema. É no trabalho e no esforço pelo impossível que surge a criação crítica; porque esta implica algo de novo em si, ou seja, uma superação  ou negação do possível existente»

Monday 28 March 2011

Ser...

 “A Natureza Humana está objectivada, porém é subjectiva.”
“Eu sou eu e um outro em mim. Lembro-me no meu esquecimento."

Pessoa em pessoas...

“Ser Pessoa é  ser um universo de pessoas em si mesmo.”

A Busca

“A felicidade de ser deve consistir no estar aqui e agora!” 

Tuesday 22 March 2011

Ontem, hoje e amanhã...

"Neste mundo estragam-me com enganos..."
"Tu... e só tu deves ser o teu próprio Porta-Voz!"
"Nestes sistemas para se conseguir há que intervir!"
"O egoísmo e o altruísmo devem andar de mãos dadas."

    Monday 14 March 2011

    Inspiração com Derrida

    «Ser é carregar o mundo em cada sopro de ar. Em cada batimento e em cada momento!»

    Confusão, distracção ou constelação?

    «O Amor é como uma constelação...
    Está cá presente, porém lá bem no Alto,
    O ser humano por muito que o queira
     não o alcança...
    É uma contemplação em estado puro...

    Contudo há que acreditar na sua construção,
    no seu sentido possível e impossível...

    Tu aí e eu aqui
    Juntos...de mão dada
    Podemos um Todo neste Nada.»

    Paradoxo poético

    «Não nasci poeta...
    Nasci para ver, ouvir, cheirar, degustar e sentir o mundo de forma concreta!»

    Thursday 10 February 2011

    Ode ao Texto

    Introdução

    Se reflectirmos na nossa própria vida reparamos que há livros que nós memorizamos devido ao facto de nos terem marcado, porque nos ensinaram ou nos levaram a viajar por lugares únicos de um quasi mundo. Este mundo virtual é o mundo da literatura, mundo esse que nos constitui também como seres humanos, porque somos o único ser vivo que sente pensando e que consegue ter a faculdade de literacia. Se pensarmos nesta capacidade do homem, podemos reflectir na importância do livro nas sociedades. O texto lido provoca algo no seu leitor e para ter sido escrito antes de lido algo aconteceu também no seu autor (locutor). Há um envolvimento na obra, que nos expressa em si um tempo vivido que poe vezs só é compreendido com uma certa técnica e competência de leitura, que envolve na sua essência tanto a explicação como a sua compreensão.  Mas como podemos entender melhor este processo?
    A hermenêutica é a chave para o entendimento do que estamos a falar e a perspectiva do pensador Paul Ricoeur será a nossa luz durante o caminho que temos de percorrer na nossa reflexão. Ricoeur foi pioneiro no seu pensamento hermenêutico porque quis entender muitas das dictomias existentes nesta área e ao entende-las quis nutri-las de necessidade mútua na sua existência. 
    Na Filosofia estamos habituados a reconhecer a importância fundamental das obras literárias, visto que são o objecto principal do estudo ou investigação filosófica. A interpretação de textos é uma ferramenta essencial no pensamento filosófico, porque desenvolve as suas competências cognitivas e as complexifica. Portanto, podemos interiorizar que de facto o texto oferece-se a nós e permite-nos uma experiencia única e um reconhecimento do nosso próprio eu.
    Por fim refiro que considero de relevo reflectir nesta temática, que apelei de “Ode ao Texto”. Com o intuito de reflectir na natureza do texto e na sua relação com o Todo vivido. Porque surgiu em mim uma vontade de reflectir no nosso quotidiano e no seu desapego à obra literária que começa a promover uma espécie de crise no desenvolvimento do pensamento crítico da humanidade.

    (...)

    2º Capítulo
    “A importância do sentido do Texto”
    Este capítulo é dedicado a formação educativa do ser humano e à importância do texto nessa mesma formação. Como sabemos as Humanidades sempre desenvolveram competências no pensamento humano. Contudo, actualmente podemos reflectir que existe uma crise nas Humanidades e essa deve-se significativamente ao desapego continuado, que as nossas sociedades contemporâneas têm tido em relação ao mundo da literatura e das suas áreas elementares, promovendo a necessidade de um método de leitura aprofundado e de uma busca de sentido do texto.
    Como referimos no capítulo anterior a procura do sentido do texto é uma experiencia única e complexa, que educa o ser humano sobre a sua própria natureza. Ricoeur é um filósofo que nos chama a atenção para um modo de entender o texto muito mais humanístico, que cientifico como a tradição ditou durante três séculos, onde a técnica se emergiu a uma velocidade extrema e fez esquecer os processos de humanização.
    No século XIX muitas mudanças surgiram nas sociedades pós-modernas até ao nosso quotidiano actual. Novos meios de comunicação surgiram com uma rapidez incrível, o que provocou mutações no modo de comunicar mensagens e informação. Actualmente temos uma informação tão vasta e tão acessível perante nós, que facilmente caímos em erros de escolha e em informação facilitada e pouco detalhada. Este facilitismo permite ao homem um desenvolvimento muito escasso do seu saber e  uma reflexão pouco aprofundada sobre o todo existente.
    Carlos Reis no seu texto “A Crise das Humanidades” (publicado no jornal O Público em 2005) referencia-nos que «a deslegitimação progressiva da palavra escrita e (lida), em beneficio de discursos dominados pela imagem, a gradual perda do poder simbólico de saberes com a tradição na cultura ocidental (a Filosofia, a Literatura, a História), a hegemonização televisiva e a brutal tabloidização de uma vida pública reduzida à indigência, a afirmação de ciências sociais que às vezes decorem à margem daqueles saberes, a integração académica de formações entendidas como profissões com auto aprendizagens “práticas” (…)»[1] Promovendo-se, assim uma desvalorização não sustentável ao mundo da teoria, que é tão importante na formação académica, profissional e pessoal do ser humano.
    Os meios de comunicação evoluíram significativamente, para além da escrita fomos confrontados com uma cultura de som e imagem, o que prejudicou a intensidade da escrita como um patamar único de universais poéticos. O que são estes universais poéticos?
    Como sabemos, o homem sempre se questionou sobre a sua conduta prática. E tal questionamento deve-se significativamente ao facto de este ao longo da sua vida ser confrontado com questões existenciais. Tais questões implicam uma necessidade de reflexão e de entendimento, e o próprio mundo da literatura sempre presenciou em si mesmo essas questões, que estão envolvidas nos próprios universais poéticos (como por exemplo, a culpa, o amor, o ódio, a saudade, a confusão intelectual, a coragem… etc.) O enredo da história narrada na escrita, como por exemplo em Epopeias Antigas possibilitam-nos um auxílio para o nosso próprio entendimento de existir neste mundo, que nos transmite tanta afectividade tornando por vezes complicado racionaliza-la, devido a sua abstracção subjectiva.
    «La desproporción entre el principio del placer y el principio de la felicidade es la que descubre el significado propriamente humano del conflicto.»[2] A vida do homem nunca foi objectiva, há imensas subjectividades que o penetram e promovem conflitos existenciais em si. A existência humana pode ser declarada como desproporcional. O ser humano vive de vontade própria, contudo não é livre de conflito, do mal, do temor ou da imperfeição, que sem dúvida alguma preenchem e adjectivam a natureza humana.
    «A palavra hermenêutica cobre, pois, já desde o mundo grego vários níveis de reflexão. Designa, fundamentalmente uma technè (e não uma ciência), a arte de interpretar e apropriar o sentido dos grandes textos – que fundavam, pela sua dimensão simbólica e normativa uma determinada comunidade humana – ou ainda a arte de compreender o significado latente e obscuro de mensagens que reclamavam ser entendidas.»[3]  Esta reflexão traduz-se gratificante para o ser humano na sua existência, porque o obriga a auto-confrontar-se com as suas aptidões cognitivas e a desenvolver as suas afectividades elaborando uma meditação sobre o seu próprio tempo vivido. Mas como podemos encontrar o sentido do texto numa sociedade que emerge o seu sentido nas novas tecnologias e no seu consumo diário?
    As Humanidades são e serão sempre precisas para a busca do sentido do homem no mundo, contudo devido ao pluralismo das áreas que hoje conhecemos de comunicação é necessário actualizar as Humanidades, não deixando nunca para trás a sua tradição. Esta actualização é necessária para que a sua existência não seja deteriorada pelos novos meios de comunicação, que se apoiam grande parte num mediatismo exagerado e acrítico (como por exemplo Televisão).
    O importante é manter a procura do sentido do texto, que Ricoeur nos dita como a abertura do texto a um mundo vasto de possibilidades que se estende na interpretação do seu leitor. Apesar de todo o facilitismo provocado pelo mediatismo vivido nas nossas sociedades, temos de ter noção que existe também uma ruptura nesse mesmo mediatismo. Porquê? Porque os que estudam humanidades têm uma tendência a teorizar a criatividade e a promover a sua prática. E os que estudam imagem ou som necessitam dessa teorização para fazerem sobreviver a sua obra. Actualmente, temos por exemplo na área do Design Gráfico presente uma critica muito forte ao nosso ritmo quotidiano. Trabalhando com imagem e com redacção criativa temos um impacto visual e reflexivo em trabalhos únicos, que se originam numa liberdade incrível de comentar o que vivemos. O bom design tem por intuito clarificar mensagens e usar a imagem para atentar o seu observador, não com um intuito estético ou não estético como na arte, mas sim um intuito reflexivo e crítico.
    Actualmente muitos teóricos criticam a cultura de imagens que vivemos, contudo é necessário entender que a imagem pode ajudar o leitor a buscar o sentido do texto. Porque permite uma abordagem visual para o que o texto pretende afirmar. A falta de interesse pela leitura é hoje um facto incontestável e a imagem pode permitir uma chamada de atenção para o homem da necessidade de leitura. Estes novos meios de comunicar podem permitir um revivalismo do texto, quando são dirigidos com interesse para a intelectualização dos indivíduos. Sendo essenciais para o conceito das Novas Humanidades. Este conceito deve ser pensado como uma interacção entre as humanidades e os novos meios de comunicação e tecnológicos.[4]
    As Humanidades e a sua existência significativa no texto têm de sobreviver na nossa cultura, porque permitem o nosso alcance identitário. Por exemplo se não tivéssemos testemunhos narrados deixados por outras gerações, seriamos um mundo sem história, o que levaria a sua Queda. A nossa identidade como espécie humana, simplesmente não existia, porque não conheceríamos o antigo, o novo e o seu processo de relação evolutivo.
    A investigação impulsiona o homem à reflexão, a observação e a representação do mundo, levando-o a experienciar e a querer narrar tal experiência. A superação de teses sempre foi um passo de evolução intelectual na sua existência e a procura de sentido no texto é fundamental para esta evolução tão importante. A renovação é um processo que nos caracteriza e que nos complexifica. Porque o homem deve saber aceitar os seus erros e para tal é necessário para além do conhecimento prático ter conhecimento teórico para analisar a sua praxis.
    «A relação mensagem e código tornou-se mais complexa com a escrita, de um modo um tanto indirecto. O que aqui tenho em mente diz respeito à função dos géneros literários na produção do discurso enquanto tal modo de discurso, quer como poema, narrativa ou ensaio.»[5] Como podemos reflectir nesta afirmação, o texto traduz-se num pluralismo significativo do saber, porque nos aparece de diversas formas. As suas possibilidades existenciais são quase infinitas e apresentam-nos um máximo criativo existencial. O texto é uma criação e a sua leitura é uma interpretação da criatividade que ele nos oferece, com um intuito dessa nos influenciar a multiplicar o conhecimento presente no texto e em nós mesmos.
    A vida humana é um desafio existencial muito complexo, a sua complexidade por vezes traduz-se em conflito no homem. Porque se sente sozinho nesse desafio. E com tanta informação fútil e pouco abrangente de questões existenciais, o ser humano precisa de se agarrar a algo. Esse algo deve ser conduzido pelas próprias instituições educativas. Se a condução for feita pelas instituições de ócio podemos perceber que o homem viverá unicamente de consumos imediatos, dirigindo o seu prazer unicamente ao materialismo. O homem vive de prazer e desejos e esses devem ser educados humanisticamente, porque há desejos reflexivos e prazeres cognitivos que nos ensinam a lidar e a viver com o nosso dia-a-dia, caminhando para a procura da felicidade intelectual. Nada melhor, do que ser desde pequeno habituado a ler e conhecer um mundo virtual de personagens e episódios com um toque de magia, que podemos depois com a consciência (que está sempre em desenvolvimento contínuo) relacionar com a nossa própria existência. Ajudando-nos a conhecer o nosso eu e a reconhecer a importância do outro em nós.
    Este desafio pode justificar a necessidade de actualizar as Humanidades, porque demonstra que é preciso haver sempre relações com o quotidiano vivido. As coisas mudam e hoje em dia tal mutação é muito rápida.


    «As humanidades clássicas são desafiadas hoje pelas artes do espectáculo, pelos estudos artísticos e culturais, pelo multimédia, pelos videojogos. A reforma profundíssima de que carecem as Faculdades de Letras reside fundamentalmente em superar o arquivismo do saber ali praticado e entrosá-lo na efervescente actividade cultural das sociedades contemporâneas.
    Tal reforma não significa de modo algum que as Faculdades de Letras deixem de estudar o que no fundo sempre estudaram, as vias e os resultados de como o homem se tem interrogado e pensado ao longo dos séculos e no meio de culturas e civilizações diversas. O que varia sim é o espírito desse assunto, já não o estudo de matérias passadas e mortas, mas de um património em uso profícuo e constante em actividades e produtos actuais.» (6)


    A Hermenêutica como já referimos é uma arte e uma técnica no que se traduz como interpretação de textos. E os seus preciosos estudos sobre o bom interpretar e a possibilidade que esse nos permite fazer sentido no mundo eleva-nos a uma transcendência. Penso que é importante referir hoje no mundo contemporâneo que a capacidade de interpretação é extremamente necessária na nossa vida quotidiana. Temos de saber interpretar o que nos dão como informação, como estudo ou como verdades. Vivemos numa sociedade onde a tecnologia tem poder manipulativo e se não soubermos interpretar criticamente tal poder, facilmente somos persuadidos por ele. «
    A verdade hermenêutica é sempre relativa a uma situação»[7] E se tomarmos consciência no plano da vida real, o mesmo acontece e por vezes devido a uma informação sintetizada e mediática tomamos verdades sem as contextualizar a sua situação. Cada vez mais é importante reflectir no que lêmos, ouvimos ou vêmos, porque a informação é tanta, que se não a analisarmos, tentarmos explicar e compreender corremos o risco de a aceitar indubitavelmente e ela sem dúvida é adulterada.
    «Divertimento - Não podendo curar a morte, a miséria, a ignorância, os homem resolveram, para viverem felizes, não pensar nisso.»[8] Este pensamento de Pascal (1623-62) foi e é visionário sobre o presente e o futuro das nossas sociedades actuais, as pessoas estão a entrar num ciclo vicioso, onde a desvalorização de pensar é uma realidade. Pensar é um processo complexo no homem e que torna realmente a sua natureza tão especial. Pensar envolve a linguagem e para aprofundarmos o nosso conhecimento temos de ter uma forte relação com ela. O pensamento deve ser criativo e composto de reflexão sobre o Mundo, sobre o nosso Eu e sobre o Outro que nos rodeia. Estes três elementos estão sempre em relação e constituem-nos como um Ser. Se não pensarmos neste âmbito tão complexo, estamos em risco de ficarmos ignorantes, ou seja, de sofrer de iliteracia. O que se traduzirá na grande crise dos nossos tempos. Podemos saber ler e escrever, mas se não soubermos assimilar significações e o sentido das coisas estamos perdidos na obscuridade do pensamento invertido. Esta capacidade incapacitante promove um novo género de censura na mente das pessoas, contudo considero que esta será uma das censuras mais perigosa  do que muitos outros tipos de censura que já tivemos ao longo da história. Porquê? Porque é uma censura em anonimato, a sua aplicação é indirecta e as pessoas não se apercebem da sua existência.
    Para terminar o meu pequeno estudo, porque sem dúvida só demonstra um impacto primário da importância do texto. Este capítulo teve por objectivo informar o leitor sobre a importância da procura do sentido do texto na existência humana. E penso, que tal objectivo tenha sido alcançado, porque já somos capazes de entender que o homem tem o poder de fazer sentido no mundo e uma ferramenta essencial para esse sentido estar em expansão é o facto de ele próprio procurar o sentido nos textos. O texto é um veículo de grande relevo para a formação existencial do ser humano. Os livros tornam-nos mais humanos e impulsionam-nos a conhecer mais do nosso mundo e do seu tempo vivido, pelo outro que nos faz navegar numa experiencia única de significações e sentido.
    Abordou-se também a problemática das novas humanidades com o objectivo de concretizar uma apologia às humanidades, devido à sua importância existencial na educação e formação do indivíduo, com o intuito de se reflectir na sua emergência, e expansão do seu âmbito metodológico (novamente) a todas as áreas existentes no mundo do Saber.
    O texto, a obra literária é uma das muitas luzes da Humanidade. Ilumina um caminho gratificante e testemunhado na vida humana. A sua durabilidade em nós, a sua estrutura e o seu sentido ensina-nos a reflectir criticamente, o que desenvolve o nosso pensamento. Leituras apressadas não são solução para o nosso mundo em crise. O refúgio do livro é um modo artístico de vida. Expande a nossa criatividade de ser e liberta-nos da obscuridade. O seu princípio, meio e fim narra-nos um tempo vivido, que quando lido e interpretado constitui o nosso próprio ser.







    [1] FIDALGO, António, Novas Humanidades, rev. À Beira, nº7, Universidade da Beira Interior, 2007, pag.9
    [2] RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D), pag. 123
    [3] Conceitos Fundamentais, pag.19
    [4] Chamo a atenção do leitor para não interpretar o conceito de novos meios de comunicação, apenas como os meios televisivos ou jornalísticos comuns, actualmente sabemos que eles por intuito querem estabelecer uma cultura de massas conformada, incentivando as pessoas à própria cultura do ócio, do consumo e do facilitismo. Como em todas as áreas dentro dos novos meios de comunicação há profissionais bons e maus, complexos e fúteis, críticos e acríticos. O problema é que estamos habitualmente acostumados a receber informação dos profissionais que promovem mensagens insustentáveis de crítica para as massas e por este facto, e facilmente esquecemos de procurar a critica que outros profissionais querem promover e publicar. Essa procura tem de ser realizada por mérito próprio, visto que devido ao intuito de se querer massificar a opinião pública, muitos dos seus trabalhos são só dirigidos para a uma pequena comunidade de interessados.
    [5] Teoria da Interpretação, pag.50
    [6] FIDALGO, António, Novas Humanidades, rev. À Beira, nº7, Universidade da Beira Interior, 2007,pag.15
    [7] Conceitos Fundamentais, pag.12
    [8] PASCAL, Blaise, Pensamentos escolhidos, (trad.Port. Esther Lemos), Editorial Verbo, col. Livros RTP, Lisboa, 1972, pag.53


    (...)


    CONCLUSÃO

    Para concluir o meu trabalho considero necessária a minha reflexão sobre a temática em causa. E tal reflexão desenvolve-se na apologia ao texto, como uma ferramenta essencial no desenvolvimento de faculdades necessárias para o bem-estar do homem no mundo.
    «Senão aliviar nenhum sofrimento humano, o argumento do filósofo não faz sentido (Epicuro)»[1]  Este pensamento torna possível a compreensão do desenvolvimento do meu trabalho. Quando decidi trabalhar sobre esta temática do texto foi com o intuito de revelar ao leitor a importância do texto na nossa existência como seres complexos e enigmáticos. O texto tem em si fins terapêuticos e esses revelam-se na sua interpretação.
    Como referi na introdução na Filosofia estamos habituados a ter como objecto de trabalho e de estudo livros, teses e obras. É importante referir o quanto a leitura é fundamental para o pensamento filosófico e como a filosofia sempre foi uma área fundamental nas humanidades e sempre teve por intuito aproximar-se das pessoas e das suas questões existenciais e ideológicas. E é por esta razão que eu concordo ser muito interessante a possibilidade dos filósofos e estudantes de filosofia primarem no seu pensamento a vontade de ajudar os outros e esta ajuda será possível na reabilitação total da valorização do texto e da obra literária.
    Ricoeur é o pensador que mais me impressionou na minha investigação, o seu pensamento nutrido de fenomenologia e hermenêutica foi muito importante para eu lidar com esta temática e suas problemáticas envolventes. No sentido, que me levou a interiorizar a necessidade de procurar o sentido no texto, procurar a reviver o seu enredo. Fez-me compreender o que sinto, quando leio e quando se traduz a preciosidade de procurar entender o texto, no que é e no que diz.
    “Ode ao Texto” foi talvez um nome exagerado para o meu trabalho, mas o meu intuito ao apela-lo com este nome conceptual tão significativo é uma espécie de metáfora com o que quis transmitir sobre a importância do texto. Cabe-nos a nós como estudantes de Letras e filhos desta nova geração reabilitar os conceitos fundamentais do nosso estudo e poder acreditar na sua renovação para que não percam o seu sentido e a sua significação existencial.
    Não podemos deixar que as politicas efectuem pressão para haver cada vez mais um maior facilitismo na educação dos cidadãos. E para lutar contra tal impasse significativo, temos de ter consciência que cabe a todos nós tentar mudar tal processo reformativo. Podemos acreditar, que uma missão possível para um aluno de filosofia será lançar métodos pedagógicos, que permitam da criança ao idoso ajudar a compreender melhor o mundo e o seu próprio “eu” relacionado com o “outro”. Não podemos acreditar que tal processo é impossível, porque todos nós podemos fazer alguma coisa para melhorar o mundo. Temos de deixar de ligar tanto às questões materiais e começar a interiorizar questões mais humanistas. Sócrates quando ensinava os seus discípulos não pedia em troca bens materiais. Sabemos, que os tempos mudaram e portanto as próprias vontades também, contudo muitos dos problemas existenciais mantêm-se. A dependência monetária existe, mas não nos pode tornar viciados e envolvidos na Roda da Fortuna, temos de contrariar a ideia que a nossa vida é conduzida pelo investimento económico que fazemos. Temos de lembrar ao mundo, que o maior e melhor investimento que podemos fazer, encontra-se na reflexão e no conhecimento da vida.
    Para terminar, quero pedir desculpa ao leitor se considera o meu pensamento utópico, tenho a consciência que em certos aspectos possa-o ser, mas o mundo da utopia é um mundo virtual, que nos permite meditar no mundo real. E do mundo da utopia podemos retirar as nossas ideologias existenciais. E penso, que é importante nunca deixar de acreditar na mudança, porque esse acreditar ajuda-nos a caminhar para a frente e a lutar pelo que pensamos ser correcto. Há que debater estas temáticas e problemáticas, porque nos encontramos num novo milénio, num novo século (XXI) e no próprio futuro preenchimento da sua segundo década. Estamos numa época de mudanças e todos temos de fazer um esforço para estarmos nelas, compreende-las, confronta-las e critica-las. Vivemos numa sociedade de imensos valores e suscita-se o problema da escolha. Para escolher, temos de decidir conhecer e reflectir. E penso, que uma das soluções para esta problemática e crise actual, será a leitura e o conhecimento de obras. Só deste modo, podemos sustentar e criar novas obras e começar a redigir a nossa actualidade, confrontando-a com o seu passado, presente e o seu futuro possível. E nunca tivemos tantos meios como hoje, que nos possibilitem criar uma rede de conhecimento tão complexa e global.






    [1] MARINOFF, Lou, Mais Platão, menos Prozac, (trad.Port.), 6ª edição, Editorial Presença, Lisboa, Janeiro, 2007, pag.49

    Magritte "O principio do prazer."

    (Este trabalho é mais extenso. Contudo fiz uma selecção de partes que o envolvem na sua totalidade. As partes que na verdade são traduzidas do meu próprio  ser, ou seja humuristicamente "as que mais opino "sobre a temática em causa.)