Sunday 24 July 2011

Relatório nº2 (21 de Junho 2011)


  Ludus Interface

Resumo
Neste relatório é primordial reflectir no projecto Ludus Interface contextualizando o seu envolvimento no mundo contemporâneo da composição musical, da pintura, da performance, e também na sua conceptualização filosófica presente como estética na criação artística que constitui. 
Abstract
In this report it’s primordial to reflect in Ludus Interface project contextualizing it’s involvement in the contemporary world of musical composition, painting, performance and also in it’s phiolosophical conceptualizacion present as aesthetics in the artistic creation that is.

Para compreendermos o projecto Ludus Interface é importante perceber a sua contextualização pós-modernista. O mundo pós-moderno trouxe consigo transformações que marcaram profundamente todas as áreas criativas humanas. Como sabemos esta Era leva-nos a entender um princípio máximo de complexidade e de radicalidade que está em relação intrínseca com a existência do ser humano e do Universo que o rodeia. Relembra-se, portanto, descobertas significativas como a Relatividade de Einstein, a Incerteza de Heisenberg, ou o Efeito Borboleta da Ciência do Caos que dialecticamente contrapuseram as doutrinas clássicas do mundo pluridisciplinar do Conhecimento Humano, como o da física, da arte ou até mesmo da filosofia.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Surge assim um processo de transformação imenso nas diversas ramificações do Saber que proporcionam uma mutabilidade incrível na própria criação humana e na sua conceptualização, devendo-se ao facto de existir uma profunda relação entre estas novas descobertas e o novo modo de vida paradigmático da existência humana. «Transformação é, em suma, o principal fenómeno de constituição dos novos sentidos desse mundo.»<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]-->
É nestes novos sentidos que a nossa reflexão quer incidir, visto que é neles que se traduz a nova conceptualização do mundo artístico e das outras áreas do saber que o envolvem. Porque se formos indagar nesta questão do mundo pós-moderno sabemos que nele criou-se uma ligação fundamental entre a criação artística e a criação tecnológica, esta última que se caracteriza como impulsionadora dos novos fenómenos que decorrem nas investigações contemporâneas. Podemos dar o exemplo do projecto “9 Evenings” que surgiu nos anos sessenta e foi considerado como um dos grandes projectos que tomou por objectivo maior o desenvolvimento da criação artística com auxilio da tecnologia. «9 Evenings was the first large-scale collaboration between artists and engineers and scientists. The two groups worked together for 10 months to develop technical equipment and systems that were used as an integral part for artists performances. »<!--[if !supportFootnotes]-->[3]<!--[endif]-->
A expressão artística ganha, então, um poder imenso que permitiu empenhar em si uma hipersensibilidade, que afecta agora totalmente os públicos de uma maneira intensa e de forma sensorial, para além da cognitiva e racional. Esta hipersensibilidade nutre em si esses novos sentidos que envolvem uma nova conceptualização na criação artística e na sua estética. E é neles e nela que queremos pensar filosoficamente para levar o leitor à compreensão do Projecto Ludus Interface.
Este projecto envolve em si a doutrina da Arte Conceptual, ou seja existe em si uma «tendência artística que se inspira en el arte conceptual de la década de 1960, si bien concede mayor importancia al impulso narrativo.»<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->  A sua narrativa consiste num envolvimento em simultâneo de vários artistas que abraçam em si várias disciplinas artísticas, como a música (Jazz), a pintura e a performance. Libertando entre si uma energia totalmente pós-moderna caracterizada pela complexidade, pelo acaso, pela improvisação, pelo tempo real, pela imaginação, pelo paradoxo, pela narrativa, pelo acto artístico, pela criatividade, pelo novo paradigma, pela decisão humana e pelo mundo tecnológico. E é esta rede de conceitos que torna o projecto rico na sua conceptualização e na sua procura de sentido.
O Ludus Interface leva os artistas a mergulharem numa expressão artística que contrapõe em si o convencional. E que por consequente, origina uma possibilidade ou até podemos considerar uma tarefa de interpretação hermenêutica por parte dos próprios artistas e também dos diversos públicos aos quais o projecto se apresentará.
«A Hermenêutica não tem como objectivo a posse de conhecimentos e coisas, mas pretende simplesmente trazer à consideração dos filósofos algo que foi esquecido: a necessidade de pensar a forma de mediação que efectuam os ideários comuns transmitidos pela tradição histórica e literária. Segundo Gadamer, uma tal mediação, porque faz pensar e transmite práticas de relacionamento e de comunicação, exige execução criativa e pode ajudar a ultrapassar a redução do homem ao agir mecânico dos dias de hoje.»<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]-->
Este excerto foi escolhido com o intuito de explicar ao leitor a importância da compreensão de existir uma relação de interpretação no acto artístico deste projecto e que esse ocorre em ambas as partes, ou seja, nos intérpretes e nos interpretantes. E que na “leitura” da simbólica existirá de forma paralela uma narrativa conceptual e um contexto histórico que formata e desformata o próprio projecto. A hermenêutica pode fundamentar a construção de sentido e do hipersentido que o Ludus Interface cria e recria em si mesmo, sendo um projecto totalmente aberto em si e para si, ou seja não cria uma clausura de sentido. E este fenómeno demonstra a sua complexidade pós-moderna, porque podemos reflectir na sua aproximação ao mundo que nos rodeia cheio de significações e sentidos que predominam hoje numa fórmula holística e que essa se aproxima do conceito Universal que os filósofos desde sempre estudaram.
E o porquê de falarmos deste conceito abstracto que é o Universal? Como em todas as áreas do saber a própria arte tem de inserir em si a complexidade de ser humano e por isso introduzir o paradoxo da sua existência envolvida num todo que envolve em si diversas partes em relação proporcional e desproporcional continua. Porque «La desproporción entre el principio del placer y el principio de la felicidade es la que descubre el significado propriamente humano del conflicto.»<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> Sendo cada vez mais necessário envolvermo-nos numa criação que se aproxime ao que somos e a narrativa artística tem todos os meios neste momento que a possa traduzir de forma sensorial e cognitiva. E o hipertexto permite esta liberdade para a criação de espaços e técnicas que nos envolvem numa representação do conhecimento totalmente actualizada. «O conceito de hipertexto, por sua vez, é espantosamente simples: trata-se de um texto que pode ser percorrido de diversas formas, não contendo a priori princípio ou fim.» Ou seja, mantém em si uma abertura complexa ao seu devir e continuidade existencial.
E este projecto envolve em si, sem dúvida alguma, um esforço de trabalhar esta conceptualização na sua narrativa, visto que mesmo sendo auxiliado de meios tecnológicos como a programação que irá permitir uma transformação nas partituras e na sua composição musical gráfica, levando-nos também a compreender a necessidade e o esforço da criatividade humana, que eventualmente se elevará autonomamente perante a própria tecnologia. Esta é um meio e a criação do fim deste é estabelecida pela incompreensão da complexidade do acto artístico da própria máquina, onde surgirá o acto de criação e criativo humano para que o projecto fique em aberto.
«Especialmente numa época quando o uso do poder e da tecnologia mantêm-se focados na concentração de riqueza, belicosidade e dominação da natureza (…) é necessário que uma das principais funções da arte seja a de expressar ideias e sentimentos fundamentais para o ser humano (…). Num contexto como esse, a exigência sobre a criatividade do artista é altíssima já que não basta inovar no que é dito mas, complementarmente, na forma de estruturar o discurso»<!--[if !supportFootnotes]-->[7]<!--[endif]-->
Para terminar, queremos que o leitor entenda aqui o conceito de discurso como a narrativa que está envolvida no próprio projecto e no seu acto artístico. Porque mesmo não sendo essa comunicada em palavras comuns, nutre em si uma comunicação de conceitos importantes para a compreensão da nossa existência. A linguagem artística do Ludus Interface leva-nos a viajar pelo tempo-real do paradoxo e pela improvisação no acaso que se assemelha totalmente à da nossa própria existência que na sua circusntancialidade enigmática nos caracteriza humanamente.


Bibliografia

GROSENICK, Uta, ART NOW vol.2 “La Nueva Guía con 136 Artistas Contemporaneous Internacionales., ed. Taschen;

PORTOCARRERO-SILVA, Maria Luísa, Os Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica, Coimbra, 2010;

PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999;

RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D);

http://www.9evenings.org/; 17 de Junho de 2011 (11h.45m)
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999, pag.1
<!--[if !supportFootnotes]-->[4]<!--[endif]-->  GROSENICK, Uta, ART NOW vol.2 “La Nueva Guía con 136 Artistas Contemporaneous Internacionales., ed. Taschen,pag.556

<!--[if !supportFootnotes]-->[5]<!--[endif]--> PORTOCARRERO-SILVA, Maria Luísa, Os Conceitos Fundamentais de Hermenêutica Filosófica, Coimbra, 2010, pp.2-3
<!--[if !supportFootnotes]-->[6]<!--[endif]--> RICOEUR, Paul, Finitud y Culpabilidad, Ed. Taurus, (S.L), (S.D), pag. 123

[7] PRATES, Eufrasio, Hipermúsica: A Planimetria como técnica hipersígnica de composição musical, IV Congresso Internacional Latino – Americano de Semiótica, Corunha – Espanha, 1999, pag.3



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