Sunday 24 July 2011

Proposta de reflexão (27 de Junho 2011)

Proposta de Reflexão sobre o Ludus Interface
As sombras chinesas e o modo como estas interpolam em si a Realidade com a ficção

Nesta reflexão quer-se indagar sobre as sombras chinesas e no seu próprio modo criativo de exposição. Visto que, nos oferece uma realidade ficcionada em confronto dinâmico com a realidade (real)
Por que razão conceptualizamos a projecção das sombras chinesas como uma realidade ficcionada?
As sombras chinesas permitem-nos um confronto entre o real e a ficção,  porque ao observar a sombra conseguimos consciencializar que nela existe uma representação do real, ou seja, uma ficção visual. A realidade e a ficção são duas expressões artísticas, porém também existencialistas. Todos nós temos a perfeita noção de que estas dimensões fazem parte do nosso intrínseco ser e que a sua expressão caracteriza o nosso devir neste mundo. Contudo, o que nos interessa aqui é reflectir sobre a conceptualização destes dois conceitos no projecto Ludus Interface. 
Nesta performance as sombras chinesas são essenciais para o seu próprio devir, no sentido em que marcam a existência de duas dimensões em si existentes.
Como podemos, portanto, reflectir na conceptualização destas duas dimensões no Ludus Interface? Penso que a resposta a esta problemática insere-se já em dois pólos trabalhados e desenvolvidos na própria performance. Se reflectirmos que na acção dos músicos e no seu trabalho de composição musical encontramos o pólo racionalista e na acção da artista plástica deparamo-nos com uma expressão do pólo sensitivo, o que nos leva a poder iniciar a nossa indagação sobre a dimensão do real e a dimensão da ficção como envolvidas nos dois pólos que referenciamos atrás. É no mundo da razão e das sensações (categorias estas que nos caracterizam como seres humanos) que surge a realidade e a própria ficção. O Ludus Interface leva-nos a mergulhar nesta metáfora conceptual com a nossa existência, que de forma criativa e num modo que tece uma meditação nos seus espectadores envolve um confronto harmónico entre estas duas dimensões (realidade e realidade ficcionada) que em alguns momentos da performance se confundem, estimulando neles, por isso um apelo à sua razão e também às suas emoções.
Indagar na realidade e na ficção da projecção das sombras (chinesas), leva-nos a pensar analiticamente na Alegoria da Caverna de Platão. Como sabemos esta alegoria platónica refere em si um conjunto de homens que vivem numa caverna isolados e aprisionados, que tomam como real na sua visão apenas a própria sombra de si mesmos e dos objectos que os rodeiam. Ou seja, a sua realidade é ficcionada, contudo eles não são conscientes de tal facto.

Porém, um dia um dos indivíduos consegue libertar-se e começa a procurar novos horizontes e consegue sair da caverna. Ao sair depara-se com uma luz imensa e com uma realidade totalmente diferente da escuridão da caverna. O indivíduo quase se cega com tal iluminação tão intensa e sente em si um imenso percepcionado no desconhecido que se lhe apresenta como novo, mas que sempre esteve lá. Sentido-se como um homem novo decide voltar à caverna para descrever este novo mundo que presenciou e como é de esperar os outros não o compreenderam e pensaram que ele falava de uma pura ficção, porque para eles a realidade encontrava-se na caverna e nas sombras dessa. No final, o indivíduo acaba por ficar na caverna sabendo de uma nova realidade existente que o preenchera e o preencherá para o resto da sua vida, mesmo ficando na escuridão com os outros, ele em si possui uma iluminação, uma consciência que lhe oferece uma experiência de vida mais complexa. E porquê mais complexa? Porque é consciente das duas dimensões existenciais, das suas diferenças e divergências e de como a ficção e a realidade podem existir como uma categoria do real na vida humana.<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Esta alegoria é importante na conceptualização do projecto Ludus Interface, porque nos permite compreender a essência da percepção das duas realidades que estamos a abordar e também a justificação de introduzirmos o conceito de realidade ficcionada e não apenas ficção. As sombras chinesas oferecem-nos mais do que uma ficção, o espectador nas suas projecções compreende a existência de uma realidade ficcionada. Sabendo que se depara com uma projecção dos músicos e não com os músicos, percebe que a ficção dessa nutre também uma realidade existente, os músicos estão lá, porém não estão presentes de modo directo no seu campo visual, mas estão presentes de modo directo no seu campo auditivo. Estimulando-os, assim, a compreender a expressão da artista plástica, que por vezes parece ser ela também uma projecção, contudo não o é. Presencia-se, assim, um abraço entre as duas dimensões, uma ligação complexa entre dois universos que se preenchem num único Universo repleto de simbólicas artísticas que se interligam às significações existenciais.
Para terminar a reflexão penso que é necessário referir que Ludus Interface possui em si um jogo de ligações complexas entre os artistas e os seus modos de expressão, que nutrem em si uma dinâmica criativa que faz compreender a realidade e a realidade ficcionada sempre presente no mundo das Artes.
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<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Cf. PLATÃO, A República (Livro VII), 10ª Edição, ed. Fundação Calouste Gulbenkian, pp.315-360

1 comment:

  1. Muito interessante Mafalda. Podemos ainda ir mais fundo...

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